22 de novembro de 2024
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Artigo: Corporativismo Social

Por: Walber Gonçalves de Souza*

Todos nós desempenhamos vários papeis sociais, bem como, somos partes de grupos distintos. A tendência natural é acreditarmos que sempre estamos nos melhores lugares, e isto acaba gerando um sentimento corporativista.

Assim, acreditamos e defendemos que a nossa religião é melhor do que as demais, que nossa profissão é a mais importante do que as outras, que nossos problemas, quando aparecem, são maiores do que os dos outros; que os grupos e lugares  dos quais participamos e frequentamos (clubes de serviço, clubes de lazer, escolas, igrejas, “peladinha” de fim de semana, o “buteco” da cerveja gelada…) são sempre os melhores; que os sindicatos a que pertencemos funcionam;  enfim, de algum modo estamos sempre nos blindando, convencidos que fazemos as melhores escolhas.

Mas a vida não é tão perfeita assim, e tão pouco somos tão convictos que acertamos sempre nas nossas escolhas. Acreditamos que sim, mas no fundo sabemos ou deveríamos saber que não.

Todavia, como uma forma de defesa de nossas escolhas criamos aquilo que se convencionou como corporativismo, que significa de forma clara e concisa, defender a qualquer custo os grupos a que pertencemos. Acreditamos que as nossas demandas são sempre as mais importantes em qualquer época.

Neste tocante parece que vivemos a era do corporativismo, mesmo que isto custe o que custar. Para exemplificar observamos que o professor só defende o seu lado, o policial também, os advogados idem, os médicos da mesma forma… enfim, todos só olham para si, para os seus próprios interesses classistas. E o que isto proporciona é que lentamente vamos perdendo a visão do conjunto, portanto, da totalidade da sociedade.

Quando se chega a este ponto, geralmente cega-se a razão, perde-se a oportunidade de ter uma visão mais justa e com equidade. Não raro os defeitos que surgem em determinado grupo passam a ser escondidos, tapeados ou até mesmo como diria o ditado popular “finge-se não ver o que está acontecendo”, é mais fácil, prático e gera menos conflitos. O que na verdade acaba por gerar ainda mais problemas que na grande maioria das vezes nunca serão resolvidos.

O grande problema de uma sociedade corporativista é quando cada um de nós, ao defender ferrenhamente os interesses dos próprios grupos e seus respectivos membros, acabamos por estabelecer um quadro silencioso de constante conflito interno e entre os próprios grupos, e assim esquecesse-se da principal finalidade de cada um que deveria ser a construção da sociedade com dignidade para todos e não apenas para alguns.

Viver em sociedade significa conquistar, mas também ceder; significa receber, ganhar, mas também doar-se; significa perceber-se como importante, mas acreditar que o outro também o é. Lutas que beneficiam as relações corporativistas só agravam os problemas que realmente deveríamos combater: as injustiças.

*Walber Gonçalves de Souza é professor e escritor.