2 de fevereiro de 2025
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Crônica: Ainda estou aqui e a Redação ENEM

O filme nacional, “Ainda estou aqui”, baseado na obra do escritor Marcelo Rubens Paiva, o mesmo que escreveu o clássico “Feliz ano velho”, percorre as avenidas do mundo, estabelece-se como uma obra magnífica nas casas de cinema do globo e é aclamado pela crítica cinematográfica sob a direção de Walter Salles. No Brasil, terra em que a vida do deputado Rubens Paiva foi apagada pela Ditadura Militar (1964-1985), ou seja, o assunto que dá a tônica da película, já são milhões de brasileiros que se dirigiram ao cinematógrafo para apreciar esta obra de arte.

Diante de um tema sensível em meio a esta polarização que assola o País, o filme brasileiro “Ainda estou aqui” traz à análise de uma época que muitos almejam apagar, principalmente aqueles que concordam com tamanha crueldade lançada por este período histórico. Faz-se ressaltar através do filme, a necessidade de tornar público, ao Brasil e ao Mundo, este desastre que se passou por estas terras tupiniquins durante mais de vinte anos. Assim como Rubens Paiva, assassinado pelo regime ditatorial, milhares de outros brasileiros também foram vítimas dessa ausência de liberdade. Famílias que até hoje não puderam velar seus entes, sem ao menos uma certidão de óbito. Ou mesmo, outros muitos cuja tortura é um passado que não se dissocia da mente.

Embora seja um fenômeno o filme brasileiro, indicado a três categorias do Oscar (Melhor filme, Melhor filme estrangeiro e Melhor atriz – Fernanda Torres), o grande acontecimento é demonstrar que o cinema brasileiro é potente, possui obras belíssimas desde “O pagador de promessas”, passando pelo “Beijo da mulher aranha”, “O Quatrilho”, “Cidade de Deus”, “Central do Brasil”, entre outros tantos. Filmes capazes de arrebatar para uma cadeira de cinema milhões de telespectadores na Era dos streamings. Um sucesso, provando que o cidadão brasileiro valoriza sua cultura, prestigia sua arte e luta para que cada vez mais tenhamos obras desse nível, capaz de mobilizar a sociedade em torno de algo tão supérfluo para inúmeros ignorantes.

E a Redação ENEM tem alguma relação com esta obra cinematográfica? Sim. Em 2019, o ENEM trouxe o cinema como tema. Será que não seria o momento deste tema ser abordado? Uma vez que o cinema nacional encontra-se em destaque pelo mundo seria salutar colocar o jovem estudante brasileiro para pensar sobre a valorização do nosso cinema, e talvez a negação de muitos diante dessa nossa cultura pouco valorizada. Diminuída pela popularização dos filmes europeus e estadunidenses, além da associação da cinemateca brasileira com a pornografia.

Pode ser que este não seja o tema para a Redação ENEM que só acontecerá em novembro, todavia se faz necessário o preparo de um repertório sociocultural capaz de sair das fórmulas prontas da internet, e começar a elaboração de argumentos plausíveis e propícios ao tema. Vai que…

*Sérgio Sant’Anna é Professor de Redação no Poliedro, Professor de Literatura no Colégio Adventista e Professor de Língua Portuguesa no Anglo.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.