27 de janeiro de 2025
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Crônica: Qual a relação entre a bunda na cadeira e as últimas notas mil na Redação ENEM?

Por: Sérgio Sant’Anna

Na última semana o INEP divulgou as notas do ENEM 2024. Surpresa para alguns, tristeza para outros, felicidade para muitos. Todos os anos vestibulandos são consumidos pela ansiedade, e não tão distante seus familiares que mantêm a ânsia para gritar, abraçar, aconselhar, amparar e incentivar para uma nova chance. Risos e lágrimas se avolumam e com eles a certeza de mais um ano que se inicia para os nossos estudantes. Porém, o que não quer calar são as doze notas mil na Redação, dentre os milhões de concorrentes.

Primeiro, veja a retrospectiva: no ano de 2020 foram 28 participantes com a nota máxima na redação; 2021: 22 redações; 2022: 18 redações; 2023: 60 redações. Ano após ano notava-se a diminuição no número de redações nota 1000. Isso não se dava em relação ao rigor dos corretores. Apenas à inclusão a cada ano de uma nova regra demonstrada através da cartilha do estudante. Cuja leitura do estudante é essencial e a do professor de Redação também. Todavia, a argumentação, especificamente nas competências de número dois e três, passaram a ser mecanizadas, engessadas através de modelos prontos e difundidos pelas redes sociais, principalmente através de professores que a todo custo desejam vender seus cursos. E dessa patuscada nota-se uma série de incoerências que apenas desejam as vendas e nada mais, prometendo redações nota mil a quaisquer custos. Retirando o essencial do aluno: a criatividade, sua capacidade de argumentação, sua necessidade de buscar elementos de outras áreas, associá-los ao tema pedido,e poder dissertá-lo como almeja os compêndios do ENEM.

Segundo, vive-se diante de uma geração que a leitura literária, assim como a busca por repertórios provindos da Filosofia, Sociologia, Música, Literatura são raros, a não ser que sejam decorados para se copiar e colar na sua redação. Essa geração está sendo tragada pelo comodismo, pelo chatGPT, pelo instantâneo, pelo imediatismo, pelo resultado rápido, abdicaram do pensar. E para isso são atraídos por esses hipnólogos chamados de coach, que com suas fórmulas precárias, mas atrativas, conquistam uma legião de admiradores que acreditam que pensar positivo apenas é a solução. Que resolução dos seus problemas se encontram nessas “bíblias”, cuja a venda garante suas viagens para inúmeros países, além dos carros caríssimos que adquirem. Não há ganho fácil sem esforço. Há que se batalhar. E para conseguir uma nota mil na redação ENEM tem que treinar, há necessidade da leitura diária, do aumento do repertório sociocultural. Não se pode resumir a nota mais importante, do maior vestibular do País, a simples e incoerentes táticas. Sem a bunda na cadeira, leitura constante e produção semanal de textos, além da devolutiva de um especialista, neste caso um professor da área, as notas 1000 serão cada vez mais escassas.

Urge, portanto, a fuga aos modelos prontos, a busca pela discussão temática e o demonstrar ao discente sobre os vários prismas cujo tema poderá apresentar. E demonstrar textos, músicas, filmes, séries, filósofos, escritores, especialistas para que o vestibulando se muna, enriquecendo dessa forma o seu repertório sociocultural. Exercitar a escrita e apostar na leitura diária e constante é uma forma eficaz de se obter a nota máxima na próxima Redação ENEM. Logo, bunda na cadeira!

*Sérgio Sant’Anna é Professor de Redação no Poliedro, Professor de Literatura no Colégio Adventista e Professor de Língua Portuguesa no Anglo.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.