Nossa Palavra – Resíduos sólidos e o desafio ambiental
Apesar de pequenos avanços, a gestão inadequada dos resíduos expõe a fragilidade de políticas públicas e a urgência de mudanças estruturais.
Os números apresentados no Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2024 escancaram uma realidade preocupante: 41,5% dos resíduos sólidos urbanos gerados no país em 2023 tiveram destinação inadequada. Mesmo com o aumento tímido no percentual de resíduos tratados de forma ambientalmente correta em comparação a 2022 — de 57% para 58,5% —, o Brasil ainda convive com práticas ultrapassadas e nocivas, como a persistência dos lixões, que receberam 35,5% dos resíduos gerados no período.
Esses dados não são apenas estatísticas; eles traduzem o descaso histórico com o cumprimento da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), cuja promessa era encerrar os lixões até 2024. Em vez disso, o relatório da Abrema destaca como a inércia administrativa e a falta de investimentos estruturais mantêm o país distante das diretrizes estabelecidas pela lei.
A geração diária de mais de 1,047 quilos de resíduos sólidos urbanos por habitante — somando mais de 81 milhões de toneladas ao longo de 2023 — evidencia a necessidade de reavaliar hábitos de consumo, coleta e destinação final. Regiões como o Sudeste, que gerou 49,3% do total de resíduos no país, possuem uma infraestrutura mais robusta de gestão, mas ainda insuficiente para eliminar gargalos críticos. No Norte e Nordeste, a realidade é ainda mais alarmante, com altos índices de resíduos não coletados ou queimados a céu aberto, prática que agrava a poluição e os riscos à saúde.
Em Taquaritinga, o cenário reflete essa crise nacional. Problemas estruturais e a ausência de políticas públicas eficazes tornam a gestão de resíduos um desafio crescente. Contudo, o anúncio de uma secretaria exclusiva de Meio Ambiente para a próxima gestão sinaliza uma tentativa de enfrentar a questão com mais seriedade. A iniciativa, se bem executada, pode transformar um problema crônico em uma oportunidade para modernizar práticas e envolver a população em soluções coletivas.
Entretanto, não basta criar novas secretarias ou lançar programas. É necessário investir em educação ambiental, incentivar a economia circular e fortalecer parcerias com associações e cooperativas de catadores, responsáveis por uma significativa parcela da coleta informal no Brasil. Esses trabalhadores, que recolheram 5,6% do total de resíduos em 2023, desempenham um papel essencial, mas frequentemente são marginalizados na discussão sobre políticas públicas.
A questão dos resíduos sólidos não pode continuar sendo tratada como uma pauta secundária. As consequências da gestão inadequada — desde danos ambientais até impactos diretos na saúde pública — são graves demais para serem ignoradas. O momento exige uma união de esforços entre governos, iniciativa privada e sociedade civil para promover mudanças efetivas.
Em Taquaritinga e no Brasil, a solução desse problema passa por um compromisso firme com o futuro. Sem isso, continuaremos a conviver com o atraso e a negligência que já custaram caro ao meio ambiente e à qualidade de vida de milhões de brasileiros.