Entrevista exclusiva: Tenente Coronel da FAB destaca importância do cargueiro C-390 e história da aviação militar em Taquaritinga
Carlos Alberto Gonçalves compartilha suas experiências como piloto de caça supersônico e fala sobre o impacto tecnológico e econômico do C-390 no Brasil.
Por: Luisinho Bassoli*
Tenente Coronel Aviador da reserva da Força Aérea Brasileira – FAB, e alto funcionário do setor militar da Embraer, Carlos Alberto Gonçalves, o Gordo, esteve em Taquaritinga no final de semana passado e nos concedeu essa entrevista exclusiva.
Paulistano, se mudou para Taquaritinga ainda criança, quando seu pai, Sr. Norberto, assumiu como gerente-geral da extinta Fábricas Peixe.
Nos anos 1980, ingressou na Academia da Força Aérea – AFA, de Pirassununga, e fez parte da elite da FAB, do seletíssimo grupo dos melhores dentre os melhores, piloto do caça supersônico Mirage III, o mais sofisticado que o País dispunha na época.
Serviu em diversas bases aéreas, entres elas Anápolis/GO, a mais importante do Brasil, e comandou a base de Boa Vista/RR, responsável pela defesa da Amazônia. Se aposentou da Força Aérea, foi contratado pela Embraer e fixou residência em São José dos Campos.
Hoje, é dos líderes do principal programa da empresa, o avião cargueiro C-390, fabricado no complexo industrial de Gavião Peixoto.
Em 2015, Carlos Alberto recebeu o Título de Cidadão Taquaritinguense.
O Defensor: O que é o setor militar da Embraer?
Carlos Alberto: A Embraer foi criada em 1969, com sede em São José dos Campos, e se tornou a terceira maior construtora de aviões comerciais do mundo.
Em 2001, inaugurou a divisão de Defesa e Segurança, a fábrica fica aqui perto, na cidade de Gavião Peixoto, e é responsável pela produção do caça Super Tucano, pela modernização do caça-bombardeiro AMX, pela produção do caça supersônico Gripen, em parceria com a empresa sueca Saab e, também, pelo desenvolvimento e produção do cargueiro C-390.
O Defensor: Nos fale do C-390.
Carlos Alberto: O C-390 Millennium é um avião militar multimissão, ou seja, transporte de tropas e cargas, reabastecimento aéreo, combate a incêndio e assistência humanitária, como
evacuação médica, busca e salvamento.
É considerado dos mais sofisticados aviões de transporte do mundo, de última geração, o que proporcionou um salto tecnológico inédito na indústria aeronáutica brasileira.
O Defensor: Qual a importância da aeronave para o Brasil?
Carlos Alberto: Além do uso pela nossa Força Aérea, são vários os benefícios do programa, que vão desde a criação de empregos diretos e indiretos, a capacitação do potencial científico e tecnológico, até aos efeitos positivos na economia nacional com a exportação, afinal, trata-se de um produto de alto valor, algo entre 80 e 100 milhões de dólares cada aeronave.
O Defensor: Quais as expectativas de produção?
Carlos Alberto: A fabricação de aeronaves desse porte exige uma complexa logística, são inúmeros os desafios, o plano é ir escalando a produção, gradativamente, até atingir cerca de 20 unidades por ano em pouco tempo. A Força Aérea Brasileira é nossa maior cliente, a previsão gira em torno de 19 encomendas, já entregamos as primeiras unidades para a FAB e para as forças aéreas de Portugal e Hungria, também estão solidificados contratos com Holanda, Áustria, República Tcheca, Coreia do Sul, além de outros países, que têm demonstrado interesse.
Taquaritinga e a FAB
Nossa cidade tem histórico na Força Aérea.
Na Segunda Guerra, o Capitão Joel Miranda combateu nos céus da Itália, até ser abatido, em 1945, sobrevivendo graças ao acolhimento de famílias italianas.
Carlos Alberto lamenta que o herói não receba a reverência que merece das autoridades locais. “Sua história é emocionante, vale dizer que no seio da aviação de caça, o Brigadeiro Joel Miranda tem o reconhecimento devido”, disse.
O Tenente Humberto Mirabelli também foi herói da FAB na Segunda Guerra; em 1943, participou do ataque a um submarino alemão, nas costas do RJ.
O advogado Álvaro Lopes ingressou na Escola de Aeronáutica do Campo dos Afonsos/RJ, em 1948. Às vésperas de se tornar Oficial, foi desligado da FAB por “indisciplina de voo”, efetuou manobras consideradas perigosas na época – hoje, pilotos com tais características acabam sendo convidados para integrar a Esquadrilha da Fumaça.
O Coronel Aviador José dos Santos Sobrinho, que atuou nas décadas de 1970 e 1980, foi homenageado com a Ordem de Athena, honraria da Escola de Comando e Estado-Maior da Aeronáutica.