25 de novembro de 2024
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Crônica: Memórias literárias que não cabem numa crônica

Por: Sérgio Sant’Anna*

Quando atingi os meus quatorze anos a Biblioteca Municipal José Paulo Paes, tornou-se meu local preferido. Sabem que agora, quando começo a escrever esta crônica não me lembrei do nome anterior da biblioteca. Gostaria de me lembrar, mas o temível apagão me acometeu. Confesso que aquele universo repleto de estantes com inúmeros livros, organizados por seções despertava-me uma sensação difícil de descrever. Era muito boa. Além disso, na década de 1990 as redes televisivas começaram adaptar, de maneira volumosa, livros como séries ou telenovelas. Contos de Lima Barreto, Mário de Andrade; obras de Nélson Rodrigues, Érico Veríssimo, Machado de Assis, acabei conhecendo primeiro pelas telas, depois os livros me empolgaram.

Vi o Caio Fernando Abreu, pela primeira vez, no antigo Matéria Prima de 1991, na TV Cultura, apresentado pelo consagrado Sérginho Groisman. Um programa com muita cultura para o jovem. Depois daquela exibição, lia o Caio semanalmente no jornal “O Estado de S. Paulo”. Jornal este que o professor Miguel Geraldo Miguel levava à residência dos meus avós paternos e deixava lá para minha leitura. Daquele periódico me alimentei das crônicas da Raquel de Queiroz, do Mário Prata, do Ignácio de Loyola Brandão, do Matheus Shirts, depois do Daniel Pizza etc. Não posso me esquecer que os meus primeiros livros pegos na biblioteca José Paulo Paes foram do gênero crônica. Armando Nogueira, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Rubem Braga e Carlos Drummond de Andrade eram os meus favoritos, porém Machado de Assis, João do Rio e Lima Barreto foram espetaculares. Rubem Braga era o ícone deste gênero narrativo. Gente, mas a Raquel de Queiroz era um deslumbre. A Lygia Fagundes Telles foi a nossa maior contista, porém suas crônicas eram exemplos para o gênero. Ah, meu mundo desabou quando soube do falecimento do Caio Fernando Abreu em 1996. Ali já tinha terminado de ler “Morangos Mofados”. Aquelas páginas do “Estadão nunca mais seriam a mesma.

Saudades tenho do Ignácio de Loyola escrevendo sobre as suas andanças pela capital paulista, pela estação ferroviária de Araraquara. Da amizade dele com o dramaturgo José Celso. Dois araraquarenses. O Mário Prata escrevia às quartas-feiras. Crônicas fantásticas. Conheci o Mário Prata pessoalmente em 2007 na cidade de Porto Alegre. Foi lá na Casa de Cultura Mário Quintana, o escritor de Lins estava dialogando com o Luís Fernando Veríssimo. Um bate papo durante a Feira do Livro de Porto Alegre. Quanta cultura… Não me esquecerei jamais da obra do Roberto Drummond, “Sangue de Coca-Cola”. Depois assisti na TV, também do Roberto, “Hilda Furacão”. “A presença de Anitta” debati bastante com o escritor Manuel J. Pires, mas confesso que nunca li a obra. Meu primo Adriano, que se dizia avesso à leitura, leu aquela obra e questionou muito a adaptação do Manuel Carlos. Dizia ele: “É muita Helena para uma Anitta só…”. Adorava às Helenas do Manuel. Suas novelas com o cheiro da Literatura e o saber da  verossimilhança. Meu irmão Luiz Fernando insistia na poesia; eu, contrário ao gênero. Todavia, confesso que os clássicos poetas me levaram à leitura. Não me impressionaram. Crônica e conto são meus gêneros prediletos.

Sabem que às vezes fico pensando no quão importante a leitura faz-se presente na minha vida, e como ela me ajuda a organizar minhas ideias, a despertar argumentos e fazer com que me tornes um produtor de textos. Quando comecei a escrever esta crônica não sabia como e o quê escrever. Fui escrevendo, organizando minhas ideias e me parece que saiu mais uma crônica.

*Sérgio Sant’Anna é Professor de Redação no Poliedro, Professor de Literatura no Colégio Adventista e Professor de Língua Portuguesa no Anglo.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.