Crônica: Ainda por um País de leitores
Por: Sérgio Sant’Anna*
Talvez o que diga aqui possa soar como algo pejorativo, narcísico, egoísta, todavia a intenção é a busca da reflexão, a tentação por sempre querer ir além. Não estagnar. Acho que até já contei aqui que certa vez uma mãe me abordou na Escola, há mais de vinte anos, e me disse que sua filha era uma escritora, se eu poderia verificar os seus escritos. Analisei os inúmeros textos em prosa que a garota havia desenvolvido, além dos poemas compostos. Textos péssimos. Não fui realista com a empolgada maternidade, contudo logo concluí que a jovem moçoila (como diria o professor Gilberto Tannus) não gostava de ler. Os sinais apresentados pela mãe que, também, era professora, nasceram do seu amor fraternal, aquela relação entre mãe e filho, portanto, há que se descontar. Era como aquela mãe que afirmava a vida toda que o filho era bonito e o mesmo passava a acreditar…
Pois é, não há como ser um bom produtor de texto se não somos leitores ávidos. A compulsão e paixão pela leitura é anterior à composição. E hoje, assim como anteriormente, devemos deixar esse saudosismo de lado e sermos verdadeiros, pois o problema é secular. Não temos leitores, temos consumidores de livros, e hoje há uma mania de competição. Ou seja, quantos livros fui capaz de ler em um determinado período de tempo. Ler como traças nunca foi o ideal, ler é analisar, refletir, permanecer com o livro até esgotá-lo. Um livro consumido indevidamente, como se fosse um xis qualquer, será indigestivo.
Hoje há uma série de magos com as fórmulas prontas em relação à construção da redação para o vestibular, uma espécie de construção de Frankestein, aquela obra do Romantismo Europeu. Esses que aí estão realizam um desserviço à construção de um país de leitores, pois são capazes de dizer que a construção de texto é técnica, portanto, nada de ler. O papo que rola sobre o repertório sociocultural, restringe-se a meia dúzia de autores e alguns filósofos que pouco estimulam ao pensar, basta apenas algumas pinceladas pelos resumos que os doutos propiciam e já é hora de aplicar. Nunca foi tão fácil ganhar dinheiro em cima de técnicas que nada estimulam a formação de cidadãos críticos e conscientes. Estamos distante da formação de um Brasil de leitores. Até porque há inúmeros docentes que são avessos à leitura, logo, nada há para acrescentar ao discente.
Enquanto o número de jovens experientes em redes sociais aumenta gigantescamente, o número de leitores críticos diminui. Estamos diante de uma geração de analfabetos funcionais. Desde os profissionais até aos iniciantes estudantes. Uma geração apodrecida pelo fracasso gradual da Educação, pela ausência de investimento diante dos profissionais professores, seja através de salários que se encontram precários até as universidades responsáveis por promover a formação dos futuros profissionais.
A luta é árdua, o trabalho é hercúleo, mas nada, nunca, far-me-á desistir. Depois de 26 anos ainda luto pela formação de um país de leitores. Acredito que será possível se fizermos nossa parte da maneira correta.
*Sérgio Sant’Anna é Professor de Redação no Poliedro, Professor de Literatura no Colégio Adventista e Professor de Língua Portuguesa no Anglo.
**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.