Artigo: Só o voto salva
Por: João Palomino*
Aprendemos no jornalismo que a palavra “óbvio” não pode ser aplicada.
O que é óbvio, não deveria ser discutido. O que é óbvio é tão claro à percepção humana ou ao entendimento humano que, obviamente, não pode fazer parte das questões cotidianas.
Mas quando nos deparamos com situação semelhante a que Taquaritinga está enfrentando hoje, o óbvio, está claro, não parece tão óbvio assim.
A vida nos permite fazer escolhas, a vida nos permite, pelo poder das nossas mãos e convicções, seguir caminhos.
E existe uma escolha suprema, intocável, democrática, poderosíssima, muitas vezes negligenciada pelo brasileiro, menosprezada pelo brasileiro, motivo de piada, que é o voto. Tenho respondido a muitos amigos que sabem da minha relação íntima com Taquaritinga sobre a nefasta situação que a cidade enfrenta no campo político, no campo econômico, no campo da ética.
Tento explicar, mesmo à distância, sem todas as informações necessárias à formação de uma opinião mais crítica – porque elas quase inexistem-, mas é difícil admitir que um lugar que você ama tanto, que você respeita tanto, um local em que você criou uma relação emocional de retina, viva hoje um pântano de acusações mútuas, um ringue sem lutador. São tantas expressões e manifestações covardes (essa palavra nem é suficientemente forte para descrever o que acontece em Taquaritinga hoje) e incrível que a cidade esteja chafurdando entre decisões judiciais e seu futuro político.
E quando tento obter informação, entender melhor os trâmites, jornalista que sou, me deparo com a desesperança maligna que afrouxa a convicção da mudança a partir do voto, da análise dos candidatos, da percepção própria de que é preciso mudar para mudar.
Não é possível aceitar o frustrante conformismo diante do caos.
Não, não são dias normais, não são reuniões e sessões de câmara com a mesma preguiçosa pauta. É o caos. É o bem-estar de um povo, a esperança de um povo, o emprego, a vida, a saúde e a inteligência de um povo sendo tratados com evidente desprezo.
Pior que a negligência, que condena como cúmplices os eleitores, tem privado a cidade de novas lideranças. Jovens, com senso mais crítico, diferentes das ramificações viciadas, não se interessam, não querem, não se veem aptos ou tem receio de, mesmo tão jovens, já terem a trajetória maculada.
E é em defesa destas novas lideranças, destes novos nomes, desta esperança que pode retornar a partir de um novo conceito de política que temos de nos unir.
Taquaritinga não deixará de ser acéfala, ainda que tenha alguém na cadeira, se as velhas e ultrajantes práticas da política não tiverem o rumo alterado pelo voto.
*João Palomino é jornalista. Foi repórter de política e economia da Manchete, SBT e Tv Cultura. Durante 25 anos foi narrador, apresentador e Vice-presidente de Jornalismo da ESPN. Ganhou o Prêmio de Melhor Executivo de Comunicação em 2013 e o Prêmio Embratel de Jornalismo em 2015.
**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.