Artigo: Dia Internacional da Mulher – um dia de luta
Por: Paulo Cesar Cedran*
Como profetas, escritores, poetas e compositores tendem a estar a frente de seu tempo, de nosso tempo cotidiano, de vislumbrar como oráculos, temas sensíveis num futuro não muito distante e, por vezes, tornam suas célebres obras, atemporais, fato que para o escritor italiano Ítalo Calvino, recebe o nome de clássicas. \para uma reflexão em torno do Dia Internacional da Mulher, afora os clichês que evocam rosas, cores femininas, doces e outras estratégias que se tornaram comerciais e nada convencionais, o ponto der partida não é nada glamuroso “nesse dia, no ano de 1857, as operárias de uma fábrica, em Nova York entraram em greve para reivindicar a redução do horário de trabalho, com direito à licença maternidade e a equiparação de seus salários aos dos homens. As mulheres foram trancadas na fábrica e, devido a um incêndio, 129 delas morreram” (PORTAL UOL). Assim, desde 1975, o dia 8 de março é comemorado pelas Nações Unidas, como o Dia Internacional da Mulher. Comemorar, rememorar, fazer memória, é não deixar esquecido, é atualizar constantemente, essa luta quase atemporal pela universalização de direitos. Folheie os jornais da semana anterior e veja declarações do tipo “Igualdade salaria não se obtém por canetada”, Editorial Folha de São Paulo, de 4/3/2024, p, A-2. Portanto, esse primeiro alerta todo ano, para todos nós, homens e mulheres deve ser: comemorar é lutar por condições melhores e menos desigualdade social, num mundo pós-neoliberal distópico em que o fosso entre incluídos e excluídos, outros e cancelados, pouco a pouco, vai minando a sociedade, fragmentando as relações e polarizando-as ainda mais. Criando grupos identitários fechados, em que grassa todos os tipos de ismos, que corroem e esgarça o tecido social: etarismo – preconceito contra pessoa com idade avançada, racismo – preconceito contra a cor de pele, sexismo – discriminação por gênero e sexo e a aporofobia – rejeição e aversão a pessoas pobres e à pobreza. Nesse contexto, quem poderia nos salvar? Uma super-mulher? Um super-homem? Voltando à reflexão inicial, Gilberto Gil, em 1978, apostou nesse super-homem, a canção, composta, segundo ele, após ouvir o relato entusiasmado de Caetano Veloso, sobre o filme Super Man, quando o super-herói volta o tempo para salva sua namorada da morte. Toda a repercussão que a letra e a música causaram à época e causam até hoje, torna-se um farol para iluminar as trevas em torno de narrativas que alimentam o ódio e distorcem a simples constatação de que para os super-homens, como o que afirma no início da canção, é difícil aceitar: “…a ilusão de que ser homem bastaria, que o mundo masculino tudo me daria, do que eu quisesse ter”. Passar por este processo faz com que os homens reconheçam em si, a presença do feminino e permite, poeticamente, afirmar: “Que nada, minha porção mulher que, até então se resguardara. É a porção melhor que trago em mim agora. É o que me faz viver.” E dai viria a bela mistura do masculino e do feminino: “Ser o verão no apogeu da primavera”. Mulher e homem, homem e mulher. È a mulher no seu lugar de igualdade que poeticamente Gilberto Gil a eleva ao dizer: “quem sabe o super-homem venha nos restituir a glória, mudando como um Deus, o curso da história por causa da mulher.” Sejam, pois, vocês mulheres, as protagonistas dessas mudanças e que a construção da igualdade entre mulheres e homens, não da anulação de um pelo outro, mas da complementação dos elementos masculinos e femininos presentes em cada um de nós. Como nos pede o próprio Senhor, em Gênesis, capítulo 1, versículo 27: “E Deus criou o homem à sua imagem, a imagem de Deus, Ele o criou; e os criou homem e mulher.” Um viva a todas as mulheres!
*Paulo Cesar Cedran, é Mestre em Sociologia, Doutor em Educação Escolar, Docente do Centro Universitário Moura Lacerda – Ribeirão Preto (SP).
**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.