22 de novembro de 2024
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Artigo: Divinos espetáculos em Taquaritinga

Por: Isabela Nascimento*

No último fim de semana, aconteceu em nossa cidade a quinta edição do FESTTAQ (Festival de Teatro de Taquaritinga), este ano homenageando o poeta, escritor e ator Neco Pagliuso, filho inestimável da terrinha.

O evento contou com a presença de companhias de teatro e jurados de várias regiões do Brasil: Rio de Janeiro, Santos, Ribeirão Preto, Londrina, entre outras. O Cine Teatro São Pedro foi coração da arte durante os três dias de evento, o qual ofereceu espetáculos infantis e adultos, oficinas, exposição de escritores taquaritinguenses, artesanato, pinturas e doação de livros. Tudo de modo gratuito e aberto ao público.

Público. Esse que eu me pergunto todos os dias por onde anda. Por que não aparece? Por que não aproveita a oportunidade de apreciar espetáculos? Forma de arte raramente acessada – principalmente para quem vem das classes mais baixas. E nesse fim de semana estava tudo ali, de graça, pronto para receber os espectadores. São muitas as desculpas, mas nenhuma delas convincente quando falamos de eventos singulares que acontecem nesta cidade. Entretanto, como bem disse uma das organizadoras do festival, Casturina Lima, “importam os que aqui estão, importam os que vieram” E é exatamente isso: os que lá estiveram, tiveram o privilégio de sentir um turbilhão de sensações e momentos catárticos.

Não consegui assistir a todas as peças, mas fiquei curiosa para ver o espetáculo premiado na categoria adulto: “Clarice do Brasil.” Só de saber que se trata de um texto autoral sobre a escritora Clarice Lispector, já me encantei. Aproveito para parabenizar todas as companhias que participaram e todos os premiados desta edição. Ver a felicidade estampada no rosto de cada ator que subia para receber seu prêmio, foi lindo demais. Só eles sabem de todo o esforço e dedicação envolvida na participação de um festival.

Agora, no entanto, peço licença para falar de uma companhia em específico. E falo como fã, sem disfarçar. A jovem companhia de Ribeirão Preto “Divino ato” foi a premiada no ano passado com a peça de Federíco García Lorca, “A casa de Bernarda Alba” (1936), texto presente em meus estudos durante a faculdade. A peça foi reapresentada este ano na abertura do festival, e, claro, assisti ao espetáculo pela segunda vez. Para a competição de 2023, o grupo apresentou ao público taquaritinguense a peça “Bodas de sangue” (1933), obra que integra – junto com “Bernarda Alba” – a trilogia dramática do escritor espanhol.

Ver a companhia no palco é como estar em outro lugar. É vivenciar nosso direito à arte e à cultura e aos preciosos sentimentos despertados por ela. Encantamento, raiva, lágrimas de emoção, de tristeza, riso e admiração. Com figurino característico, trilha sonora forte e pulsante, falas firmes e moduladas, somos transportados para terras espanholas, chamados a acompanhar os dramas da vida conflituosa e conservadora dos anos 30, seja na primeira ou na segunda peça. Leiga que sou, também me impressiono com a memorização de um vocabulário de época e traduzido do espanhol.

Com todos esses elementos, adentramos a casa da viúva Bernarda Alba e conhecemos suas filhas e seus dramas. Somos cúmplices de seus segredos e angústias, criamos Pepe Romano em nossa imaginação. Chocamo-nos com o fim de Adela. Arrepiamo-nos com os gritos e lamentos dessa morte e aplaudimos de pé, como se só as palmas não fossem possíveis para expressar o quanto nos agradou.

 Já em “Bodas de sangue” estivemos em outras casas, pertencentes aos familiares de um casal cuja atração proibida é razão do ato dramático. Da nova peça vale destacar a performance flamenca presente. O flamenco é uma dança e música tipicamente espanhola vinda das regiões de Andaluzia, Múrcia e Estremadura, com influências árabe, judaica e cigana. O sapateado aliado à trilha sonora e os movimentos da dança mesclando-se à tragicidade da narrativa: uma dupla dedicação – e talento – dos atores. E quanta poesia compõe a encenação: até lua e morte ganham vida. Verdadeiro espetáculo!

As categorias de melhor ator e atriz, merecidamente, foram entregues a integrantes da peça. Que venham os próximos anos de festival e que venham os próximos divinos atos para Taquaritinga. Vida longa ao teatro! Vida longa ao FESTTAQ! Obrigada por essa oportunidade!

*Isabela Nascimento é Professora de Redação e Espanhol, Bacharela em Letras e Mestra em Estudos Literários.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.