Crônica: Indefinições Oníricas
Por: Sérgio Sant’Anna
Ato I:
Vejo-me com as características do meu pai… as negativas, as que não desejei. Não sou capaz de extirpá-las, parecem indestrutíveis. Talvez já tenha nascido comigo e nem percebi, permanecerão até os últimos dias. Parece esta uma batalha perdida. Moinhos de vento não podem ser derrotados, Dom! Há pedaço paterno em mim…
Ato II:
Os meus olhos queimam, minhas pupilas parecem navegar… mas cá dentro canta o samba maroto, aquele que quando era garoto me dava elementos para animar… Quero encontrar o sossego, porém minha memória parece não deixar…
Ato III:
O apitar da leiteira era moderno, admirava ao leite subindo pelas paredes daquele velho canecão que a minha avó utilizava. O cheiro gostoso e o amargor de uma vida que não deveria ter passado…
Ato IV:
O pegar pelas mãos e nos conduzir ao objetivo é o primeiro gesto de um pai. Levar à escola pela primeira vez, atravessar à rua rumo a uma banca de gibis ou mesmo desfilar pelos salões das matinês carnavalescas ao som de Gal Costa… Destinar-nos à compra do primeiro “Laka” ou mesmo o nosso primeiro espetáculo circense, no entanto fica o milho cozido que ele me levou a experimentar… dos grãos ainda indefinidos sinto a liberdade de poder caminhar, encorajado pelas mãos firmes de um pai.
* Sérgio Sant’Anna é Professor de Língua Portuguesa do Anglo e COC Professor de Redação da Rede Adventista e Jornalista.
**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.