Crônica: A liberdade e o hábito de escrever
Por: Sérgio Sant’Anna*
Não acho justo aquele que prega ao aluno sobre teorias e regras, diante da escrita, não usando dessas mesmas para suas composições. Especifico ainda mais: há os que exigem esses tais procedimentos empregados no texto discente, todavia, ele, professor, não escreve.
Li, certa vez, que 90% dos professores que ensinam Redação, ministram essa disciplina tão importante, não escrevem. Ou seja, passo todos os passos ao aluno sobre como escrever e não cumpro esse ritual. É muito fácil expor todo aquele show pirotécnico ao aprendiz sem ao menos conseguir empregá-lo diante da produção do seu texto.
Confesso a vocês que já escrevi muito mais. Li muito mais também. Cheguei a escrever para um diário, minha seção ocupava as páginas todos os dias. É lógico que não tenho a criatividade de um José Simão, porém procurava incorporar aos meus textos a bagagem trazida das teorias difundidas pelas aulas na Faculdade de Letras. Passei a escrever semanalmente, lembro-me até o nome da seção: “Cultura em Destaque”. Esta abandonei a pouco, confesso ter a intenção de um dia retornar à sua composição. Era muito bom. O feedback apresentado pelos leitores era melhor ainda. Esse contato entre emissor e receptor deve ser nítido, sem ruídos; assim deve fazê-lo o escritor: buscar pelos anseios dos seus leitores, quais os gostos e necessidades dos nossos interlocutores.
Hoje, assim já há vinte anos, ministro muito mais aulas do que escrevo. A preparação das aulas, correção e montagem de avaliações, correção de redações, retiram-me tempo. Voltei a escrever diariamente, busco seguir os preceitos de alguns grandes escritores, tornar a escrita novamente um hábito. Assim, também, faço com a leitura, mesmo que sejam alguns minutos procuro concentrar-me diante daquelas páginas. Talvez o silêncio das madrugadas tinham-me estimulado; também, a escrita sendo desenvolvida na hora quando surge a ideia. Pelo menos a escrita do que se trata o assunto deve ser anotada, por isso essas minhas folhas de rascunho, mesmo durante as aulas, carregadas entre uma sala e outra. Tenho ideias, devo anotá-las. Lembro-me do Inácio de Loyola Brandão, discorrendo sobre esse seu hábito em uma de suas geniais crônicas reproduzidas pelo diário, “O estado de S. Paulo”, em que o escritor imortal, araraquarense, fanático torcedor da Ferroviária, dizia andar pelas ruas paulistanas com sua caderneta e sua inseparável Bic. Esse exercício que nos provoca ao escrever é cansativo, contudo proporciona raciocínio, reflexões, prestar atenção em detalhes do cotidiano, relacionar-se com outros seres humanos buscando sempre a indagação. Enfim, uma prática que requer atitude, esforço e compromisso.
Portanto, você, que ainda não escreveu e necessita escrever, use da sua liberdade e faça dessa prática, a escrita, um hábito. Verás que esse esforço não será tempo perdido. “Carpe diem”.
* Sérgio Sant’Anna é Professor de Língua Portuguesa do Anglo e COC Professor de Redação da Rede Adventista e Jornalista.
**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.