30 de outubro de 2024
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Crônica: Vinte e quatro anos. Você foi meu aluno!

Por: Sérgio Sant’Anna

Semana que vem completo 24 anos como profissional da Educação. Mais de duas décadas destinadas, dedicadas ao trabalho docente. Semelhante a um jovem alcançando sua maturidade, esta que não está relacionada com a quantidade, porém à análise, à prática, ao labor etc.

A primeira aula a gente nunca esquece, pode até parecer comercial de TV aberta, todavia a marca deixada por aquele primeiro momento é inigualável. São marcas que carrego na alma, são memórias que insistem em desfilar em meio ao caos educacional deixado pela pandemia, realmente, é o gás que insiste em alimentar o gosto ardente de poder transmitir o conhecimento teórico e, também, a experiência de vida. Como todos bem sabem, a Escola brasileira atravessa, talvez, o seu período mais difícil, ou seja, vivemos uma decadência nos lares, famílias desestruturadas e com isso crianças e adolescentes cada vez mais sem-limites, acostumados apenas ao “sim” como resposta. Alunos com sérios problemas psicológicos clamando por uma palavra amiga e verdadeira, algo que os lares não propiciam mais. Chegamos ao ponto, meus caros leitores, de pais dizerem aos professores que não conseguem mais controlar os seus filhos, crianças, que apenas necessitam de limites. Estamos diante de um efeito letárgico familiar. A impotência dos lares. Com isso a escola torna-se o local onde a barreira deve ser construída, o limite imposto, o não a ser tratado como um advérbio de negação, porém a ordem que faltava em casa.

Em 1999, no dia 15 de junho, aniversário da minha avó Carmem, recebo uma ligação da Escola Prof. Francisco Silveira Coelho, a coordenadora, Rose, chamando-me para a substituição. Alegre e feliz não só pelo fato de iniciar-me diante da carreira docente, no entanto o dinheiro (como hoje) era essencial. Com ele a independência financeira, a ajuda aos meus pais que sempre não mediram esforços para me ajudar. Antes de me dirigir à escola passei na casa da minha prima Celina e do meu primo Márcio (in memória), peguei um apagador e uma caixa para depositar os gizes a serem usados (era giz ainda, e o quadro verde que insistiam em chamar de negro). Foi uma tarde agradável. Alguns alunos que não desejavam saber de aprender, outros, muitos, ávidos pelo conhecimento. Com vinte e um anos, na época, era interessante que tinha apenas um pouco mais de idade que alguns alunos; mas, era durante o período noturno que acabava sendo o mais novo da sala, pois ali tínhamos o Supletivo (hoje EJA, Ensino de Jovens e Adultos).

A primeira música que trabalhei para explicar a Gramática de forma contextualizada foi “Família” do Titãs, a banda que eu amo. E trouxe para a explicação um dos quadros de um pintor colombiano, que agora não me recordo do nome, cujas características de suas obras traçam a obesidade, um retorno aos clássicos das artes plásticas. Aprendi com o Padre Marcelo Rossi a tornar minhas aulas um show. Não só um espetáculo, mas também, um momento em que os alunos aprenderão ao conteúdo, pois a contextualização faz-se fundamental. E não parei mais, músicas e filmes, séries, memes, charges, HQs, textos das redes sociais, todos, elementos que só agregam às minhas aulas. E lá se passaram 24 anos. Amigos, alunos, amigos, ex-alunos, companheiros de trabalho, professores etc. Pessoas que chegam a ti e dizem: “Hoje sou professor por ti”. Que sensação!

Sei que o salário deveria ser maior, sei que somos desvalorizados, sei que muitos familiares não entendem por que tanta dedicação, todavia é algo subjetivo, é uma necessidade, é o amor. É a vontade de dividir minhas leituras, meu conhecimento, alimentar mentes ávidas pela saúde mental. Ávidos pela paz psicológica, o colo de um pai.

Nesses vinte e quatro anos acho que fui mais que um professor. Você foi meu aluno¿

* Sérgio Sant’Anna é Professor de Língua Portuguesa do Anglo e COC Professor de Redação da Rede Adventista e Jornalista.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.