21 de dezembro de 2024
CidadeGeral

Artigo: Parece criança mimada

Por: Carlos Galuban Neto*

Para quem, assim como eu, tem como hobby falar mal de governos, não importando a coloração ideológica, o Brasil é o verdadeiro paraíso: se, nos últimos 4 anos, Bolsonaro fez e falou as bobagens que cansamos de condenar, Lula tem se esforçado até demais para descer ao nível de seu antecessor.

Em uma visão pessimista, a situação é terrível, visto que as trapalhadas do governante de turno prejudicam todo o país. Já sob uma perspectiva mais otimista e um tanto quanto egoísta, encaro a questão com alegria, pois facilita o trabalho deste colunista.

A presepada da vez é a recepção feita a Nicolás Maduro. O venezuelano foi recebido com tapete vermelho em Brasília dias antes da chegada dos demais líderes sul-americanos para o encontro da até então falecida UNASUL. Na entrevista coletiva conjunta dos dois líderes, Lula classificou a situação de calamidade vivida pelo povo venezuelano como mera narrativa dos meios de comunicação, tendo afirmado que o governo do colega seria democrático.

A mentira de Lula não passou despercebida. Luis Lacalle Pou e Gabriel Boric, presidente uruguaio de direita e presidente chileno de esquerda, respectivamente, condenaram as declarações do brasileiro e manifestaram a mais absoluta rejeição ao regime de Maduro, o qual, bem sabemos, é tão democrático quanto o Palmeiras é campeão mundial. Os milhares de venezuelanos que, diariamente, atravessam a fronteira em direção aos países vizinhos, que o digam.

Ao contrário do que pensam os militantes da bolha petista, as críticas a Maduro não são ideológicas e não estão baseadas em um preconceito das elites contra um líder popular que tem como única preocupação ajudar os mais pobres – isto sim, raro leitor, é uma narrativa. O ditador venezuelano é criticado porque persegue a imprensa, manda prender opositores políticos, impede a população de votar livremente e, ainda, é responsável por políticas que levaram o país ao descalabro econômico.

Passar a mão na cabeça de Lula a cada erro cometido, como têm feito seus seguidores mais fiéis, não o ajuda, muito pelo contrário. Tratar os equívocos do petista como má vontade da imprensa é mais ou menos agir como os pais da criança travessa que, no lugar de corrigirem as condutas do filho, colocam a culpa no professor que apontou o mau comportamento.

O resultado de mimar um filho jamais é positivo. Depois, a criança cresce e se torna um Flávio, um Carlos, ou um Eduardo Bolsonaro da vida. Que horror. Pior do que criança mimada, só quem tem político de estimação.

*Carlos Galuban Neto é advogado formado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.