14 de novembro de 2024
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Crônica: Escritor ou não: tu procrastinas!

Por: Sérgio Sant’Anna*

Esta aí um verbo de difícil conjugação. Antes de conjugá-lo faz-se necessário o domínio de seu significado, pelo contrário não há necessidade de colocá-lo nas pessoas do verbo.

Sei que com muitos dos colegas que converso, principalmente com aqueles que fazem uso da escrita, todos são decididos ao afirmarem: nós procrastinamos. E quem ousou não procrastinar? Este vocábulo me remete ao soar do pecado, ao ferir a doutrina divina, ao descumprir os mandamentos, ao impor seu ócio preocupante a frente de seu ócio labutador (existe?). Parece que continuamos devendo, falta algo, não cumprimos com o nosso dever, é bem isso. Ligou o editor e pediu a matéria para o jornal de amanhã, cadê o seu artigo? Onde estão suas duas crônicas para aqueles jornais que tu escreves? Compromisso é compromisso! Assumiu, há de cumprir!

Mas somos uma nação de procrastinadores, seres acostumados a deixar tudo para amanhã, adiamos ao máximo compromissos que nos estabelecem prazos. Somos levados ao último e derradeiro dia para quitá-los. As longas e quilométricas filas são sinônimo da nossa procrastinação, do estabelecimento da nossa preguiça, das nossas heranças indígenas (quem sabe?) ou talvez a natureza trazida pelos nossos colonizadores. Também quem resiste a uma festa com os amigos, ao encontro dos filhos numa festa infantil, de uma conversa facebookiana ou mesmo aquele capítulo da telenovela das vinte e uma horas. Todas estas oportunidades são uma pedra no caminho daqueles, principalmente, que escrevem. E quando ainda não conseguimos sobreviver integralmente da profissão escritor aí sim o bicho pega, ou seja, é muito mais complicado, tudo se torna mais difícil. Provas para corrigir, aulas para elaborar, livros para serem lidos nas datas marcadas, além de uma série de elementos burocráticos que atravancam nossos destinos. E a quantidade de redações que ainda temos para corrigir quando somos professores de Língua Portuguesa?

Outro dia me ligaram: “E aí, Sérgio? Tudo bem?”.  Respondi que sim. Era do jornal. Desejavam os meus textos, aqueles semanais. Seria falta de organização? Talvez. Será que aquele trabalhador que vive da luta no campo procrastina? Será que deixa de acordar cedo, pela madrugada? Esquece da sua bóia que chega fria ao seu trabalho? Não, este não. Ele é o alicerce, é subjugado pela sociedade, menosprezado pelos cidadãos, pouco amado pelos patrões, explorado pela nação. Este não tem como procrastinar, pois quando ele parar a sociedade sentirá e aí sim reclamarão, pois não há ninguém que possa fazer o serviço deles com primor, sem procrastinação…

* Sérgio Sant’Anna é Professor de Língua Portuguesa do Anglo e COC Professor de Redação da Rede Adventista e Jornalista.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.