23 de abril de 2025
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Crônica: Ídolos jamais morrem, ficam cravados em nossos corações

Por: Sérgio Sant’Anna*

Há algumas semanas comemorou-se o aniversário de três ícones da Música Popular Brasileira (MPB), Elis Regina e seus 80 anos; Cazuza, 67 anos; Renato Russo e seus 65 anos. As redes sociais foram abarrotadas de letras, canções, homenagens e momentos especiais vividos ao lado dessa plêiade que até hoje embala gerações. Símbolos marcados pela transgressão de uma época, acostumada aos desmandos militares à serviço de uma corja de corruptos e bárbaros, capazes dos mais brutais crimes para ver prosperar o autoritarismo como uma bandeira eficaz e convincente, Elis, Cazuza e Renato levaram seus fãs ao delírio, porém com a dose cavalar da reflexão. Donos de canções que embalavam, todavia letras que coordenavam seus interlocutores ao ato de pensar. Um exercício filosófico.

Foram cedo, deixaram saudades, e uma lembrança que não os deixa envelhecer. Memória solidificada. Esta semana acabei postando em meus stories a imagem dos integrantes do “Mamonas assassinas”, mortos em um acidente aeronáutico em pleno Carnaval de 1996, e suas imagens, hoje, criadas através de IA (Inteligência Artificial). Surpresa ao vê-los envelhecidos e a tentativa de revê-los ainda jovens. Mesmo com a ajuda da Inteligência Artificial, parece-me que se encontra da mesma forma que quando partiram. Destarte, faz-se com os três ícones relembrados no parágrafo introdutório. Donos de uma discografia profícua, Elis, Cazuza e Renato, apesar da pouca idade para abraçarem à morte contribuíram com a expansão do cenário musical aqui no Brasil e sua ruptura com os “Gorilas”, substantivo muito utilizado contra a Junta de Militares que governaram o País Brasil… À base de álcool e remédios Elis nos deixou, partiu e um legado ainda hoje sobrevive; Cazuza e Renato Russo são duas vítimas do então mal-do-século dos anos de 1980. Momentos que até hoje parecem pulsar nesta mente.

A filósofa e escritora Djamila Ribeiro, escreveu na semana passada, que mesmo insistindo, persistindo, jamais conseguirá envelhecer Elis, Cazuza e Renato, pois a juventude deles foi roubada pelo prazer momentâneo acostumado a fazer vítimas até hoje. A eternidade preserva-os, assim como nossas memórias que os bloqueiam na eterna magia de Peter Pan. Quando Elis partiu, chorei com apenas cinco anos, pois a sala da casa de minha avó materna enchera de outras lágrimas. O âncora do telejornal chorou, o repórter no velório chorou, o País se viu em lágrimas. Cazuza, também, fez-me chorar. Aquela imagem cadavérica difundida pela revista Veja foi chocante. Jamais abandonou minha mente. Um sinal macabro da violência que a AIDS causava aos seus portadores. Com Renato a espera pela morte. O negar pelo tratamento após contrair uma gripe. Final narrado, mas inexplicável para este fã.

Em 1994, após a trágica morte do campeão Ayrton Senna da Silva, escrevi uma em que terminava assim: “Ídolos jamais morrem, ficam cravados em nossos corações”. E será para sempre assim que me lembrarei de Elis Regina, Cazuza e Renato Russo. “Todos os dias quando acordo, não tenho mais o tempo que passou, mas tenho muito tempo…todo o tempo do mundo…”. Durmam em paz!

*Sérgio Sant’Anna é Professor de Redação no Poliedro, Professor de Literatura no Colégio Adventista e Professor de Língua Portuguesa no Anglo.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.