23 de abril de 2025
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Crônica: Deixar de escrever à mão emburreceu nossas crianças e adolescentes – estamos produzindo zumbis

Por: Sérgio Sant’Anna*

Não vejo o vocábulo “emburrecer” como uma hipérbole, mas sim como um eufemismo. O uso deste verbo é um alerta, uma forma de clamar por socorro. Nossas crianças e adolescentes não sabem mais escrever à mão. São sim habilidosos no trato digital, todavia diante da escrita manual é uma vergonha. Letras ilegíveis, e pasmem, não é solicitado que tenham uma letra bonita, apenas que aquele quem lê, ou seja, o interlocutor, consiga desvendar o hebraico antes da volta de Jesus. Palavras incompreendidas. Letras rabiscadas. Aulas de caligrafia são “démodé”. E aqui apenas tratando da parte estética da escrita.Todavia, a ortografia tornou-se um fardo ao estudante, que não se preocupa mais com a Competência 1 da prova de Redação do ENEM. Infelizmente, a confiança em IAs (Inteligências Artificiais) superou à procura aos aurélios.

Enquanto esta crônica descansava, esperando ser alimentada por mais ideias, segura através de bons e concisos argumentos, surgiu a polêmica diante da “trend” diante das fotos no estilo Ghibli. Porém, será que fora apenas uma brincadeira fofa, cuja manada partiu sem raciocinar o que estavam realizando? O Estúdio Ghibli foi criado por Hayao Myazaki e Isao Takahata, diretores e animadores cinematográficos. Apesar de ser uma “trend”, reflitamos:  isso é legal? Foi uma IA (Inteligência Artificial) quem fez. Onde se encontra a ética: De onde surgem as referências usadas pela IA? Lembre-se que este estúdio consagrou-se internacionalmente devido seus desenhos serem feitos de maneira manual. Além de perdermos nosso processo de criatividade, estamos enterrando o espírito ético. Há muito adormecido nessas terras que Cabral corrompeu.

Ao entrar na sala de aula, cumprimentar os alunos, explicar de forma simples e objetiva o conteúdo, peço para que os mesmos escrevam um texto dissertativo-argumentativo, retratando o que fora discutido em aula e que o livro diário traz em letras garrafais. Respostas absurdas soam. Zunidos e balidos são emitidos em meio ao coaxar abusivo daqueles que insistem em não fazê-lo. Espera-se que diante de uma turma que almeja ocupar as melhores cadeiras acadêmicas do País, redigir seja um esforço necessário, haja vista que o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio é o trampolim para o sucesso dessa juventude acostumada a ter tudo em mãos. Uma adolescência alimentada pela facilidade digital, cuja realidade não existe. Uma juventude naufragada pelo desejo de ir além da tecnologia, todavia uma geração que conquista apenas as regiões mais abissais. Um grupo dentro de um poço sem fundo. Apagado pela ignorância digitada. Um pensar abandonado, uma imposição criada por eles e que os alimenta à indecisão, à ansiedade, ao desprezo, ao isolamento, ao suicídio…respostas que as telas se responsabilizam em apresentar aos mesmos. Parece que a perspectiva de futuro já não existe mais. O anseio é de ser sustentados a vida toda pelos pais.

Se a série inglesa exposta pela netflix, “Adolescência”tomou conta do Planeta e despertou diversas discussões, é claro e notório que o problema está aí, e que estamos apenas protelando à sua discussão. Amparados por pais omissos, colégios e escolas atarefados e jovens apáticos e mimados, esperando por uma solução apresentada pelas IAs.

Será que teremos que clamar pelos deuses das redes sociais? A sociedade está doente. Vivemos novamente um mal do século: a preguiça de pensar. Eu tento fazê-los escrever, obtenho respostas positivas, contudo há uma legião de zumbis sendo formada.

*Sérgio Sant’Anna é Professor de Redação no Poliedro, Professor de Literatura no Colégio Adventista e Professor de Língua Portuguesa no Anglo.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.