Abandono animal: Quais são os cães menos adotados no Brasil e por quê?
Fatores como cor, idade e raça ainda influenciam a adoção de pets, deixando milhares de cães à espera de um lar
O Brasil enfrenta uma crise silenciosa de abandono animal. Segundo estimativas, cerca de 30 milhões de pets vivem em situação de rua ou em abrigos, aguardando a chance de serem adotados. Apesar dos avanços na conscientização, a adoção de cães ainda é influenciada por fatores como raça, cor e idade, deixando determinados grupos à margem da escolha dos tutores.
Dados da pesquisa global da Mars Petcare revelam que a maioria dos cães no Brasil são adquiridos de amigos ou familiares, enquanto apenas uma parcela reduzida vem de abrigos ou ONGs. Além disso, 51% dos tutores optam por cães de raça, sendo o Shih Tzu o mais popular no país. Esse cenário desfavorece especialmente os vira-latas, os cães de pelagem preta e os animais idosos, que costumam passar mais tempo nos abrigos sem encontrar uma família.
Os cães que mais sofrem rejeição na adoção
Vira-Lata Caramelo: o símbolo nacional que ainda sofre preconceito
Se há um cão que representa o Brasil, é o vira-lata caramelo. Ele estampa memes, aparece em campanhas publicitárias e até foi sugerido para ilustrar cédulas de dinheiro. No entanto, essa fama não se reflete em adoções. Por serem os mais comuns nos abrigos, acabam sendo frequentemente ignorados, já que a oferta supera a demanda.
Pesquisas da Associação Arca de Noé apontam que vira-latas possuem 90% menos chances de serem adotados em comparação com cães de raça. O preconceito social ainda persiste, associando os sem raça definida a animais de “segunda classe”, mesmo sendo conhecidos por sua inteligência, lealdade e resistência a doenças.
Cães de Pelagem Preta: vítimas do “efeito invisível”
Um fenômeno global que afeta a adoção é o preconceito contra cães de pelagem preta. Superstições e estereótipos negativos fazem com que esses animais sejam vistos como “menos amigáveis” ou até mesmo agressivos, especialmente os de porte médio ou grande.
Nos abrigos, voluntários relatam que os cães pretos costumam ser os últimos a serem escolhidos, o que pode prolongar sua estadia por meses ou até anos. O chamado “efeito invisível” faz com que essas cores passem despercebidas nas fotos de adoção, prejudicando ainda mais suas chances de encontrar um lar.
Cães Idosos: a resistência em dar uma segunda chance
Muitas famílias preferem adotar filhotes, acreditando que terão mais tempo juntos e menos problemas de saúde. Esse pensamento deixa os cães idosos entre os menos escolhidos para adoção.
“Há um mito de que cães mais velhos são frágeis ou difíceis de lidar, mas a realidade é que eles são mais tranquilos, amorosos e já têm comportamento estável”, explica Juliana Camargo, presidente do Instituto AMPARA Animal. Além disso, cães idosos geralmente já são castrados e vacinados, exigindo menos cuidados iniciais do que filhotes.
Adoção responsável: o caminho para mudar essa realidade
Apesar dos desafios, há um movimento crescente para incentivar a adoção responsável, que leva em conta o perfil do tutor e as necessidades do animal. Uma pesquisa aponta que 63% dos tutores de cães se dizem muito satisfeitos com seus pets, e 50% destacam o amor incondicional que recebem de seus animais.
Para mudar esse cenário, é essencial desconstruir preconceitos, promover campanhas de adoção consciente e incentivar que mais pessoas considerem dar uma chance a cães que normalmente são esquecidos. Afinal, independentemente da cor, idade ou raça, todos os animais merecem um lar onde possam receber carinho, cuidado e respeito.