30 de janeiro de 2025
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Artigo: A dieta do ovo. Moda ou perigo para a saúde?

Por: Arthur Micheloni*

Nos últimos anos, a dieta do ovo tem se tornado popular entre indivíduos que buscam emagrecimento rápido ou aumento de massa muscular. Este regime alimentar consiste, na maioria das vezes, em consumir ovos como base ou até mesmo como única fonte alimentar. Embora a praticidade e o custo acessível do ovo atraiam muitos adeptos, especialistas alertam sobre os riscos associados a essa abordagem restritiva. Este artigo analisa os impactos dessa dieta sob a ótica de estudos científicos e pesquisas revisadas por pares.

Riscos das dietas monótonas e restritivas

Dietas que focam em um único alimento, como a dieta do ovo, podem levar a deficiências nutricionais severas. O corpo humano requer uma variedade de nutrientes para funcionar corretamente, incluindo vitaminas, minerais, carboidratos, proteínas e gorduras. Segundo uma revisão publicada no Journal of Nutrition (2020), a monotonia alimentar e a exclusão de grupos alimentares inteiros aumentam o risco de deficiências nutricionais, incluindo as de vitaminas do complexo B, vitamina C e fibras alimentares, indispensáveis para a saúde intestinal e imunológica (GOSWAMI et al., 2020).

O carboidrato, por exemplo, é essencial para a função cerebral, pois algumas células dependem exclusivamente desse macronutriente como fonte de energia. A ausência de carboidratos na dieta pode causar sintomas como cansaço extremo, dores de cabeça, dificuldade de concentração e irritabilidade (SMITH et al., 2019). Em dietas como a do ovo, esse macronutriente é praticamente eliminado, tornando-a insustentável a longo prazo.

Embora o ovo seja rico em proteínas e nutrientes, o consumo excessivo de gemas pode elevar os níveis de colesterol LDL (conhecido como colesterol ruim). De acordo com um estudo publicado no American Journal of Clinical Nutrition (2021), a ingestão de mais de 12 ovos por semana está associada ao aumento dos níveis de colesterol e a um maior risco de dislipidemias (ZHONG et al., 2021).

Outro ponto a ser considerado é o impacto no fígado. Altas doses de colesterol podem sobrecarregar esse órgão, que tem um papel fundamental no metabolismo lipídico. Disfunções hepáticas podem surgir em indivíduos que consomem de forma crônica grandes quantidades de gemas (MARTINS et al., 2022).

A perda de peso obtida por dietas extremamente restritivas, como a dieta do ovo, geralmente não é duradoura. Um estudo conduzido por FREITAS et al. (2020) mostrou que 70% dos participantes que seguiram dietas hipocalóricas e monótonas recuperaram o peso perdido em até seis meses após o término da intervenção. Isso ocorre porque dietas muito restritivas não promovem mudanças sustentáveis nos hábitos alimentares, levando o indivíduo a retornar aos antigos padrões alimentares.

Para uma perda de peso saudável e duradoura, é necessária a reeducação alimentar, que inclui a introdução de uma dieta variada e equilibrada, contendo alimentos ricos em fibras, proteínas magras, gorduras saudáveis e carboidratos complexos (WHO, 2018).

Benefícios do ovo quando consumido com moderação

Apesar dos riscos do consumo excessivo, o ovo é um alimento extremamente nutritivo e versátil, quando incluído de forma equilibrada em uma dieta. Um ovo médio (60 g) contém aproximadamente 84 kcal e oferece nutrientes importantes, como:

– Proteínas de alta qualidade: cerca de 7 g por unidade, essenciais para a síntese muscular.

– Vitaminas lipossolúveis: como A, D, E e K, fundamentais para a saúde ocular, óssea e imunológica.

– Minerais: incluindo ferro, zinco, fósforo e selênio, que desempenham papéis cruciais no metabolismo e na defesa antioxidante.

– Carotenoides: luteína e zeaxantina, que ajudam a proteger contra a degeneração macular e o desenvolvimento de cataratas (CHEW et al., 2013).

Além disso, o ovo é uma excelente fonte de fosfolipídios, substâncias essenciais para a saúde do sistema nervoso e das membranas celulares.

Para indivíduos que praticam atividades físicas e buscam ganho de massa muscular, a ingestão adequada de proteínas é indispensável. De acordo com a International Society of Sports Nutrition (2022), a recomendação para praticantes de exercícios de resistência é de 1,2 a 2 g de proteína por quilograma de peso corporal por dia.

Por exemplo, uma pessoa de 70 kg que treina intensamente necessitaria de 84 g a 140 g de proteína diariamente. Essa quantidade pode ser obtida a partir de diversas fontes proteicas, como ovos, carnes magras, peixes, laticínios e leguminosas, promovendo variedade e um melhor perfil de nutrientes (PHILLIPS et al., 2019).

* Arthur Micheloni é Fisioterapeuta, pós-graduado em Osteopatia, Fitoterapia, Ortopedia e Traumatologia, discente e adepto da Medicina Integrativa, Professor de Ciências Biológicas e graduando em Nutrição – e-mail: [email protected].

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.