Nossa Palavra – Desigualdades no acesso à saúde pública
A adesão crescente aos planos particulares evidencia a fragilidade do SUS no município, enquanto uma parcela majoritária ainda depende exclusivamente do sistema público.
O aumento no número de taquaritinguenses que aderem a planos de saúde, conforme os dados mais recentes da Agência Nacional de Saúde (ANS), é um sinal ambíguo. De um lado, reflete um esforço individual por parte da população para garantir acesso a serviços de saúde mais ágeis e especializados. De outro, evidencia as lacunas do Sistema Único de Saúde (SUS), do qual ainda depende 70% da população local.
Até dezembro de 2024, cerca de 16.370 moradores de Taquaritinga tinham planos de saúde privados, um aumento de 455 beneficiários em relação ao ano anterior. A adesão não é um fenômeno isolado, mas uma tendência que se acentua desde 2019, com uma alta de mais de 6% no período. Já no segmento odontológico, 6.151 pessoas contam com cobertura particular, marcando um aumento de 5% no último ano. Esses números indicam que a busca por serviços privados de saúde vai além de uma escolha e se apresenta, muitas vezes, como uma necessidade imposta pelas falhas do sistema público.
A dependência do SUS por 70% da população expõe uma dualidade inquietante: enquanto uma parcela crescente pode arcar com custos de planos particulares, a maioria segue enfrentando os desafios do atendimento público, marcado por filas, escassez de médicos e limitações estruturais. Essa discrepância reflete uma realidade nacional, mas é sentida de forma ainda mais acentuada em municípios menores, onde os recursos disponíveis são frequentemente insuficientes para atender à demanda.
O aumento na adesão aos planos privados também carrega uma leitura econômica. Embora a alta dos beneficiários sinalize um poder aquisitivo maior para parte da população, ela não é um indicativo de melhoria universal. Muitos, diante da precariedade do SUS, se veem obrigados a destinar uma parcela significativa de sua renda a planos de saúde, comprometendo o orçamento familiar para garantir acesso a tratamentos e consultas médicas.
A saúde pública é, teoricamente, um direito de todos e um dever do Estado. No entanto, a realidade observada é uma amostra de como a teoria e a prática se distanciam. O SUS, que deveria ser a principal garantia de acesso à saúde, acaba sendo relegado àqueles que não possuem outra alternativa, enquanto o setor privado se torna a solução paliativa para uma parcela mais privilegiada.
O crescimento do setor privado, portanto, não pode ser celebrado sem uma análise crítica. Ele é, antes de tudo, um reflexo de uma saúde pública incapaz de suprir as necessidades de sua população. Para que essa tendência não se transforme em um sintoma crônico de desigualdade, é essencial que os gestores municipais, estaduais e principalmente Federal redobrem esforços para fortalecer o SUS, garantindo que ele cumpra seu papel de ser um sistema universal e de qualidade.
O debate sobre saúde vai além dos números. Ele aponta para escolhas que precisam ser feitas em termos de prioridades políticas e orçamentárias. Se boa parte da população continua dependendo do SUS, a questão não é apenas quem pode pagar por um plano privado, mas quem está sendo deixado para trás.