22 de fevereiro de 2025
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Artigo: A desinformação como um risco global – o papel dos governos na fiscalização e punição

Por: Luciléia Aparecida Colombo, Ana Júlia Capelli e Nicoly Gabrielli Macari Caldeira

No dia 15 de janeiro de 2025 foi publicado o relatório referente à 20.ª edição do Global Risks Report, do Fórum Económico Mundial, especialmente através da Pesquisa de Percepção de Riscos Globais, com respondentes do meio empresarial, acadêmico, do ambiente político e da sociedade civil, onde vários pontos foram amplamente abordados e cujo material serve de diagnóstico para os governos agirem em prol de medidas de curto, médio ou de longo prazo. Neste ano, o Global Risks Report foi enfático ao afirmar que o risco de conflitos armados entre os países, seguido da desinformação ou da informação incorreta (fake News) são os principais riscos globais, segundo os entrevistados. No caso da desinformação, ela pode aumentar e maximizar a polarização política existente em vários países – em destaque o Brasil – além de facilitar a desagregação dos cidadãos com a política, mantendo e ampliando uma distância cada vez maior entre o governo e a população.

As mudanças climáticas e os perigos dos eventos climáticos extremos também foram apontados pelos entrevistados como potenciais perigos a serem enfrentados pela humanidade nos próximos anos. O que o relatório de fato aponta é o que já vivenciamos no cotidiano: instabilidade, sistemas políticos que não representam verdadeiramente os eleitores, descrença no futuro e desconfiança popular em relação aos governantes. Entretanto, a falta de consistência na veracidade das informações tem sido apontada como a grande vilã social, pelo segundo ano consecutivo da publicação do relatório, a qual pode colaborar com a desintegração do pacto federativo e esgarçar os elos de confiabilidade mútua entre as pessoas. Neste sentido, podemos indagar se os usos atuais e futuros da inteligência artificial poderão servir como potenciais riscos à humanidade e quais os possíveis mecanismos políticos para lidar com esse cenário controverso e incerto.

O relatório é fruto de um questionário aplicado a 900 líderes globais, como policy makers e especialistas, que lançaram um olhar pessimista sobre o futuro, especialmente com a falta de regulação tecnológica adequada para estes desafios complexos e que exigem uma transversalidade política para possíveis soluções. Estes problemas complexos recebem o nome de wicked problems, que se caracterizam exatamente pelo emaranhado de atores, soluções possíveis e dificuldades, que, à primeira vista, podem parecer impossíveis de soluções. É por isso que o mundo contemporâneo exige cada vez mais especialistas comprometidos com a resolução destas questões sociais, sendo o cientista político um destes possíveis facilitadores.

O relatório aponta também que nos próximos dois anos as dificuldades em torno dos riscos sociais podem se ampliar, especialmente em decorrência da falta de articulação e no aumento da polarização política entre direita e esquerda ao redor do mundo. Parte deste tensionamento ficou evidente no dia de hoje, com a posse de Donald Trump, como o novo Presidente de uma das maiores e mais estáveis democracias do mundo, os Estados Unidos. Em seu discurso, Trump sinalizou que vai se empenhar em implantar a época de ouro no país que representa, além de reforçar veementemente o abandono de pautas identitárias e raciais.

Porém, diante dos desafios que se aventam, os governos devem estar munidos de uma expertise técnica que lhes garantam, em primeiro lugar, possibilidades de transmitir confiança à população, além de buscar um futuro sustentável e ambientalmente coerente com os constantes desafios vindouros. O diálogo também necessita encontrar um ponto de equilíbrio entre os diferentes, principalmente para o fortalecimento da democracia e da cooperação, em todos os níveis, seja municipal, estadual, federal ou mesmo mundial.

Se a desinformação é um mal para a humanidade, cabe fazermos a nossa parte e buscamos mecanismos para sanar a propagação de mentiras perigosas, que podem ser nocivas, tanto para pessoas, como para nações.