Nossa Palavra – Mudanças na educação paulista
Aumento de aulas de português e matemática e ampliação do tempo de aula dividem opiniões sobre impactos reais na aprendizagem.
A partir de 2025, a educação pública estadual de São Paulo passará por uma série de mudanças na grade curricular, com o objetivo de melhorar os índices de aprendizagem em português e matemática. A medida, que inclui o aumento de duas aulas semanais dessas disciplinas para alunos da 3ª série do ensino médio e do 9º ano do ensino fundamental, além da ampliação do tempo de aula de 45 para 50 minutos, desperta tanto otimismo quanto dúvidas sobre sua real eficácia.
Segundo Renato Feder, secretário de Educação, a reorganização do tempo escolar visa dar aos professores melhores condições para planejar suas aulas e permitir que os alunos tenham mais tempo para absorver os conteúdos. A justificativa parece lógica, especialmente diante dos desafios impostos pela pandemia e do cenário preocupante nos índices de alfabetização e raciocínio lógico. No entanto, a questão que permanece é se a mudança isolada será suficiente para sanar problemas estruturais mais profundos.
O acréscimo no tempo dedicado às disciplinas fundamentais é um passo necessário, mas está longe de ser uma solução definitiva. A falta de investimentos em infraestrutura escolar, a sobrecarga de trabalho dos professores e a ausência de estratégias eficazes para engajar alunos em situações de vulnerabilidade social são questões que ainda precisam ser enfrentadas com urgência. Sem essas ações complementares, o aumento no tempo de aula pode se tornar apenas mais uma mudança superficial.
Outro ponto relevante é a inclusão e redistribuição das aulas de educação financeira, que passam a ser obrigatórias em séries específicas. O esforço de inserir essa temática no currículo é louvável, pois visa preparar os estudantes para uma relação mais saudável com o dinheiro. Porém, a implementação precisa ser acompanhada de uma formação consistente para os docentes que lecionarão o conteúdo, além de materiais didáticos adequados, algo que ainda gera incertezas.
A mudança na duração e no número de aulas também levanta questionamentos logísticos, como o impacto na rotina dos estudantes e professores. Embora os períodos de recesso e início do ano letivo estejam claramente definidos, é necessário garantir que a transição não sobrecarregue a comunidade escolar, especialmente em regiões mais carentes, onde as condições de trabalho e aprendizado já são comprometidas.
Se por um lado a reorganização da grade paulista está alinhada com práticas adotadas por outras redes públicas do país, por outro, é essencial que venha acompanhada de um acompanhamento rigoroso e constante dos resultados obtidos. O verdadeiro sucesso dessas medidas dependerá menos das intenções e mais da execução prática e do compromisso com a qualidade educacional como um todo.
Diante dessas mudanças, o desafio para 2025 será não apenas garantir a implementação eficiente, mas também construir um ambiente de aprendizado que realmente prepare os jovens para o futuro — tanto no aspecto técnico quanto no humano. Resta esperar que o aumento no tempo de aula seja o início de um compromisso mais amplo e efetivo com a educação pública.