Crônica: A podridão cerebral: a Luísa estava certa quando me pediu para ler Walking dead
Por: Sérgio Sant’Anna*
Nas redes sociais cabem textões? O Facebook tornou-se um informar de mensagens de autoajuda; o Instagram um mundo de Narcisos; o X com sua limitação de 140 caracteres e os ataques que vociferam. Ler nas redes sociais já não é mais um prazer…e quando foi? Somos curiosos…
Há quase uma década comecei uma crônica dessa forma. Confesso que tinha uma aluna que insistia para que lesse “Walking Dead”, porém ainda era avesso; confesso que a trilogia “Divergente” fizera parte das minhas leituras depois de muita insistência discente, mas a série dos zumbis, jamais. Hoje, minha série de cabeceira. A leitura já foi feita e aguardo pelo seu desfecho. Embora, muitos brasileiros já o vira em outras plataformas.
O amigo Adriano, músico e radialista que agora reside em Brasília, pergunta-me se já assisti a refilmagem de “Grande Sertão:Veredas”, do Guel Arraes, confesso a ele que ainda não, embora já tenha lido muito sobre a adaptação pós-moderna e a realidade que nos cerca. Lembro-me de Toni Ramos e Bruna Lombardi na minissérie apresentada pela Rede Globo. Do livro – só amor. Minhas filhas mostram-me suas leituras: Rubem Alves, Estrutura dissertativa, Biblioteca da meia-noite, a vestibulanda; já Valentina, alguns clássicos de Ruth Rocha, Diário da princesa, e cada vez mais adepta dos doramas – uma exímia dorameira.
Meus alunos, inúmeros leitores vorazes, passeiam pelos campos clássicos como Machado de Assis, que uma aluno do Sétimo ano me mostrara que ganhou de seu pai; outra com Adriana Falcão e Paula Pimenta; chega até mim a fanfic de uma aluna sobre “Torto Arado”, isso no Ensino Médio, não paramos por aí. Discutimos música, filmes, séries, além de assuntos que perpassam diante do nosso cotidiano. Isso me estimula e me faz feliz por ainda querer continuar. E logo ali vejo jovens já formados brilhando; outros, a se formar e brilhará em seguida.
Lembro-me que há exatos 17 anos, prestes a adentrar aos 30 anos imaginei ver a Beatriz sendo formada e consequentemente atingindo o posto de universitária. Que felicidade foi aquele momento com ela ali no ventre de sua mãe. Ela foi minha aluna,filha também, e lê como milhões de brasileiros que ainda insistem nesta prática, pois são sabedores de que este é o único meio para se adquirir conhecimento.
Todavia, a podridão cerebral, isso mesmo, palavra do ano escolhida pelo dicionário Oxford, ocupa o patamar vocabular. Isso em função dos exageros cometidos pelos descaminhos percorridos pelas redes sociais e o insucesso de postagens emitos pelos seres humanos que as rodeiam. Somos escravos do narcisismo, inimigos da empatia e favoráveis aos pensamentos retrógrados – e isso não tem relação com as memórias, pois estas são salutares quando nos levam à reflexão. Somos reféns de cenas retrópicas. Insucessos sucessivos. Postos nunca galgados. Interesses insanos. Visões umbiguistas. Decisões distorcidas. Atitudes violentas. A sociedade alimenta o caos.
A restrição às redes sociais para determinadas idades é necessário e o controle sobre as mesmas também, porque o freio foi perdido. A liberdade fora confundida com a libertinagem. E o olhar para estas que deveriam ser meios para navegação, hoje fazem náufragos. Cidadãos clamando por ajuda, mesmo que isso não seja explícito, pois eles ainda não são capazes de visualizar os próprios erros. Os podres cérebos, zumbis, assumem seus passos e caminham sem barreiras. Opa, minha aluna estava certa quando pediu que lesse “Walking dead”?
*Sérgio Sant’Anna é Professor de Redação no Poliedro, Professor de Literatura no Colégio Adventista e Professor de Língua Portuguesa no Anglo.
**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.