Protagonismo: Brumau finaliza recuperação judicial e mira no crescimento sustentável
Empresa aposta em estratégia robusta para reconquistar mercado de óleo de amendoim e consolidar sua presença internacional.
Após enfrentar uma crise que quase encerrou suas operações, a Brumau, uma das mais tradicionais produtoras de óleo de amendoim do Brasil, está determinada a voltar ao protagonismo no setor. A empresa, fundada em 1989 e com sede no interior paulista, conseguiu superar uma recuperação judicial que durou cinco anos. Hoje, opera com dívidas reduzidas e foco em crescimento sustentável, mirando na expansão de sua capacidade produtiva e no fortalecimento da cadeia de fornecimento.
Em 2019, a situação parecia irreversível: dívidas de R$ 200 milhões, sendo metade com credores concursais e outra parte relacionada a Adiantamentos de Contrato de Câmbio (ACC), somadas a desafios operacionais, como a greve prolongada de servidores da Fazenda do Estado de São Paulo, deixaram a empresa à beira da insolvência. Na época, a compra de uma unidade fabril da General Mills, posteriormente devolvida, agravou a situação ao comprometer o capital de giro.
Hoje, após um esforço de renegociação e reestruturação, a Brumau possui apenas R$ 3 milhões em dívidas, a serem pagos em até 15 anos. Segundo Reginaldo Melo, diretor da companhia, a empresa conseguiu um “bom desconto” durante o processo de recuperação judicial e, em 2024, não precisou contrair novas dívidas. “Passamos a trabalhar com nosso caixa, o que nos deu mais segurança e autonomia”, afirma Melo.
Exportação como carro-chefe
A Brumau faturou R$ 400 milhões em 2023, e o mesmo desempenho é esperado para 2024. As exportações de óleo de amendoim e grãos blancheados representam 90% desse total, com mercados estratégicos na Itália, China, União Europeia, Rússia e Ucrânia. A planta de Catanduva (SP) opera em sua capacidade máxima na produção de óleo e farelo de amendoim, enquanto a unidade de Taquaritinga (SP) processa os grãos em apenas um turno, devido à estratégia de otimização de capital de giro.
“Decidimos focar em operações com menor necessidade de crédito, trabalhando com excesso de caixa para combater as oscilações do mercado de commodities”, explica Melo. A política de hedge adotada pela empresa, baseada em pilares como compra antecipada de matéria-prima, contratos de exportação e gestão de câmbio, foi essencial para estabilizar as margens operacionais.
A empresa conta atualmente com 15 produtores parceiros, responsáveis por uma área de plantio de 3,6 mil hectares, além de 750 hectares de cultivo próprio. No mercado à vista, a companhia também realiza compras durante a safra, ampliando sua oferta de matéria-prima.
Crescimento do setor de amendoim no Brasil
A Brumau está bem posicionada para aproveitar o crescimento expressivo da produção de amendoim no Brasil. Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a safra 2024/25 deve alcançar 1,07 milhão de toneladas, um aumento de 45,8% em relação à temporada anterior. Esse crescimento reflete o interesse de novos estados, como Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, na cultura do amendoim, que além de ser uma commodity lucrativa, contribui para a melhoria das condições do solo.
Apesar de enfrentar concorrentes tradicionais como a Argentina, o Brasil tem se destacado na qualidade da produção, um diferencial que a Brumau busca explorar. “Nos diferenciamos pela qualidade e pelo controle rigoroso em todas as etapas do processo”, afirma Gilberto Salgado Martani, sócio-proprietário da empresa e filho do fundador.
Martani relembra os primeiros passos da companhia, que começou em uma época em que o Brasil cultivava apenas amendoim tatuzinho, mais voltado ao consumo como petisco. “Quando descobrimos o hanner, uma variedade já amplamente cultivada nos Estados Unidos e na Argentina, a produção deu um salto. Passamos de 70 mil toneladas por safra para mais de 1 milhão de toneladas”, diz.
O futuro da Brumau
Com um histórico de superação e uma visão estratégica, a Brumau agora busca reduzir a ociosidade da planta de grãos em Taquaritinga. Os planos incluem investimentos no aumento do plantio próprio de sementes e no programa de fomento aos produtores parceiros, garantindo maior controle sobre a cadeia de produção.
“Quanto mais forte for nossa originação, maior será nossa capacidade de atender a demanda internacional com qualidade e competitividade”, afirma Martani.
A Brumau emerge de sua crise com lições aprendidas e uma estratégia sólida para o futuro. Ao combinar tradição e inovação, a empresa pretende não apenas reconquistar seu espaço no mercado, mas também consolidar o Brasil como um dos principais players globais no setor de óleo e grãos de amendoim.