Crônica: Leio, logo penso!
Por: Sérgio Sant’Anna*
A afirmação cartesiana é aludida pelo título acima numa tentativa, mais uma vez, frustrada em cooptar leitores. Sim, cooptar. Pois está cada vez mais difícil formar leitores.
Lembro-me de Monteiro Lobato e sua clássica frase: “Um país se faz com homens e livros”; Ziraldo afirmava: “O livro deveria ser incluso na cesta básica”: já o genial Paulo Francis professava: “Quem não lê, não pensa; quem não pensa será para sempre um servo”. E lá se vai…como cantava Flávio Venturini. Complemento a canção: “…lá se vai uma geração”.
Meus amigos leitores, talvez os poucos que restam, estamos diante de uma geração que nasceu em meio aos aparelhos eletrônicos, uma geração que se diz tecnológica, todavia incapaz de ler um manual de instrução. Adolescentes acostumados a procurar respostas para tudo, isso mesmo, tudo, diante da internet. Uma geração que navega pelas redes sociais, mas é incapaz de retirar do afogamento de ignorância o seu amigo mais próximo, porque ele também é um ignorante.
Há algumas semanas, aquelas que antecederam às provas do ENEM, especificamente a que estava marcada pela prova de Redação, estive em alguns colégios apresentando o meu método de ensino de Redação para os estudantes e logo fui surpreendido por um número muito grande de leitores, daqueles que leem com fervor e anseiam em debater. Fiquei fascinado. Exibi minha preocupação com o aumento dos não leitores brasileiros, vorazes por livros de autoajuda e religiosos. Deixo claro aqui que sou favorável à leitura, contudo precisamos de uma leitura mais crítica, aberta e capaz de levar o leitor a pensar, e não apenas a reproduzir determinadas funções por instrução deste ou daquele.
A pesquisa “Retratos da Leitura do Brasil”, realizada a cada quatro anos desde 2007 pelo Instituto Pró-Livro, apontou que em 2024, pela primeira vez, o número de não leitores foi maior do que o de leitores. O levantamento foi realizado pelo instituto Ipec. Em 2019, a estimativa é de que havia 100,1 milhões de leitores no Brasil. Em 2024, a estimativa indica que somos 93,4 milhões de leitores. Em cinco anos a perda foi de 6,7 milhões. A pesquisa se aprofunda e traz que os brasileiros leem em média 3,96 livros por ano. Em 2019 essa média era de 4,95 livros. As mulheres são as que mais compram livros no Brasil, são 57%; e nove de cada dez leitores já saíram do Ensino Médio, ou seja, os adolescentes em idade escolar não leem. E mais: as vendas de livros no Brasil acontecem maciçamente on-line, portanto, sebos e livrarias físicos, hoje, são guerreiros.
Apesar dos números negativos há que se ressaltar o trabalho desenvolvido por inúmeros colégios e escolas para resgatar o público leitor, além dos incontáveis clubes de leitura e livros que se espalham pelo País. A intenção, agora, é que esses leitores consumam a literatura de verdade, aquela que nasce da cabeça do verdadeiro escritor, essa aí, de ficção, acostumada a contar histórias envolventes e que sejam capazes de retirar-nos da inércia. Portanto, leiamos!
*Sérgio Sant’Anna é Professor de Redação no Poliedro, Professor de Literatura no Colégio Adventista e Professor de Língua Portuguesa no Anglo.
**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.