Artigo: Página virada – é preciso aprender com os resultados…
Por: Gustavo Girotto* e Raphael Anselmo**
A esquerda e o campo progressista enfrentam um momento crucial em sua trajetória. Após anos de luta por direitos sociais, inclusão e justiça econômica, é fundamental que esses movimentos realizem uma autocrítica profunda e honesta sobre suas estratégias, práticas e resultados.
O eleito em Taquaritinga, Fúlvio Zuppani, conseguiu sua primeira vitória surfando na onda de popularidade do Partido dos Trabalhadores. Agora encontrou novo espaço na maré alta do centrão fisiológico e, de mãos dadas, venceu com seus velhos caciques. O preço é caro e, a conta que chegará, será ainda maior. Aguardem!
A necessidade de reflexão se torna evidente quando analisamos a crescente desilusão de setores da população que outrora apoiaram causas sociais, principalmente a periferia da cidade. Em Taquaritinga, falta consciência de classe; até porque são raríssimos os detentores dos meios de produção. Há uma elite de rentistas e herdeiros que pouco refletem sobre a classe social que habitam: é uma tragédia hereditária.
Um dos principais pontos a serem considerados é a desconexão frequente entre as atuais lideranças progressistas e as bases. Muitas vezes, as pautas defendidas pelos partidos e organizações não espelham as demandas reais das comunidades que pretendem representar.
Essa falta de sintonia pode levar à alienação do eleitorado, criando um espaço fértil para o crescimento de discursos populistas e conservadores. Em Taquaritinga, eles aderem com facilidade.
Outro aspecto a ser abordado é a questão da diversidade dentro do próprio movimento progressista. Apesar de se autodenominar inclusivo, muitas vezes a esquerda falha em acolher vozes e experiências diversas, especialmente aquelas provenientes de grupos mais marginalizados. A homogeneização das narrativas pode resultar em uma luta menos eficaz e na exclusão de perspectivas valiosas que poderiam enriquecer o debate.
Além disso, é preciso reconhecer os erros cometidos. A promessa de mudanças significativas não se concretizaram no passado, gerando frustração e desconfiança. A esquerda não conseguiu descolar publicamente essa imagem e, durante a campanha, também esqueceu de dizer que o eleito Fúlvio Zuppani apenas usou a sigla na época, mas jamais representou suas bandeiras ou seus ideais. A autocrítica deve incluir uma análise das políticas implementadas e seus impactos reais na vida das pessoas.
Sem essa reflexão, corre-se o risco de repetir as mesmas falhas do passado. A esquerda deve encontrar formas inovadoras de se comunicar com o público jovem, que busca novas maneiras de engajamento político. O uso das redes sociais, por exemplo, pode ser uma ferramenta poderosa para revitalizar a mensagem progressista e torná-la mais acessível.
Em suma, a autocrítica não deve ser vista como um sinal de fraqueza, mas como uma oportunidade de crescimento e renovação. É preciso que a esquerda se reinvente, escute suas bases e se comprometa com um futuro mais justo e igualitário. Somente assim poderá reconquistar a confiança da população e trilhar um caminho efetivo rumo à transformação social. Se quiser ganhar uma eleição em Taquaritinga, precisará ir além: deve abrir espaço para a formação de um grupo com capacidade de dialogar e oxigenar as ideias. O resultado foi bom, mas repetir a fórmula só deixará a vitória cada vez mais distante. O bom não é mais suficiente; da mesma forma que Fúlvio Zuppani jamais foi PT!
*Gustavo Girotto é jornalista.
**Raphael Anselmo é economista.
***Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.