Artigo: A soma de todos os medos
Por: Luís Bassoli*
Em 2002, o filme do diretor Phil Robinson, baseado na obra do americano Tom Clancy, abordou a “lenda” de que um avião israelense, armado com uma bomba atômica, foi abatido no deserto, na Guerra de Yon Kippur, em 1973.
Anos depois, o artefato foi encontrado e vendido a neonazistas, que o explodiram em Baltimore, na final do campeonato de futebol americano, onde estaria o presidente dos EUA.
A suspeita recaía sobre a Rússia, e quase levou à 3.ª Guerra Mundial.
O Novo Medo
Em 2024, Hollywood lança o filme Guerra Civil (do britânico Alex Garland, com Wagner Moura no elenco), que descreve um conflito interno nos EUA, aos moldes da Guerra de Secessão (1861/65).
A ficção retrata a nova soma de todos os medos: a maior potência mundial entrar em convulsão social e militar.
Não são poucos os que veem a possibilidade desse pesadelo se tornar realidade.
Desde a ascenção de Trump, os Estados Unidos estão cada vez mais desunidos, o que se acirrou com a vitória de Joe Biden, em 2020.
Emaranhado De Motivos
As cicatrizes da Guerra Civil nunca foram devidamente curadas, sempre reabertas por temas como imigração, aborto, racismo etc.
Recentemente, o governo federal travou um duelo constitucional com o enigmático estado do Texas.
O democrata Biden impôs o controle da União na fronteira com o México, com a resistência do governador republicano Gregg Abbott, que alega o direito constitucional dos estados se defenderem, sem consultar Washington, em caso de invasão.
(O governador diz que existem mais de 2 milhões de imigrantes ilegais, os chamados “gotaway”, que ninguém sabe quem são nem onde estão).
A Suprema Corte deu razão à Casa Branca, mas 25 estados governados por republicanos assinaram uma carta de apoio ao Texas, entre eles:
New Hampshire (região Nordeste); Florida, Georgia e Virgínia (Sul); Dakota do Norte, Dakota do Sul e Nebraska (Centro-Oeste); Alaska, Montana e Nevada (Oeste).
Dos 50 estados, 26 se posicionaram contra a Federação, o que mostra que o país está literalmente dividido.
Estrutura Militar
Muitos estados têm verdadeiros exércitos próprios, as Guardas Nacionais, com artilharia e até aviões supersônicos de combate.
Dez estados republicanos chegaram a enviar tropas e equipamentos para o Texas.
Um confronto das forças federais com as guardas estaduais levaria a uma catástrofe inimaginável.
Riscos Reais
Segundo cientistas políticos, o atentado contra Trump, no comício na Pensilvânia, deixou os EUA perto de uma possível guerra civil, à vista do ambiente político altamente polarizado.
As motivações do atentado são obscuras, o atirador, morto pelo serviço secreto, tinha ligação com o Partido Republicano.
Há alguns dias, agentes federais da segurança do ex-presidente, detiveram um homem, de 50 anos, armado com fuzil, no campo de golfe onde Trump jogava.
As autoridades disseram ser um ativista pró-Ucrânia, ou seja, de extrema-direita.
Trump sobreviveu, mas os episódios de violência indicam que existe o risco de vermos militares americanos matando militares americanos.
Consequências
A guerra entre União e Confederados causou a morte de 1 milhão de americanos; num conflito nos dias atuais, o número seria dez vezes maior.
Havemos de considerar que, na Guerra Civil do século 19, o presidente era Abraham Lincoln, considerado um dos 3 maiores líderes da história americana (ao lado de George Washington e Roosevelt).
Agora, temos líderes fracos e forças militares infinitamente mais poderosas.
Que a tragédia não aconteça!
(Com: The Conversation, Reuters, Publico, BBC, CNN e agências).
* Luís Bassoli é advogado e ex-presidente da Câmara Municipal de Taquaritinga (SP).
**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.