23 de dezembro de 2024
Geral

Crônica: Quando Lucy morreu

Por: Sérgio Sant’Anna*

Em 2019 minhas gurias possuíam uma cachorra, a qual ganhou o nome de Lucy. Isso no ano de 2016. Ganharam-na junto com o Guri, um border collie que até hoje convive com elas. Uma relação de carinho, amor. Essência fraternal. Enquanto o Guri se destacava pelo seu porte médio, Lucy era pequeníssima. Era colocada no bolso do casaco. Sua agilidade me contagiava. Enquanto o Guri desfilava, era mais lento. A amizade canina entre eles era fenomenal. Cresceram juntos e conviveram durante suas adolescências.

Em visita à Tubarão em julho de 2019, passando pela casa das minhas filhas, levamos o casal canino para um passeio numa praça ali próxima. Eu com os dois, um numa mão e o outro noutra segurados pelas guias; na minha “cola” Valentina e Bia caminhando rapidamente e seus irmãos caninos desfilando felizes. Na rua o pêlo do Guri atraía os transeuntes, e com isso se exibia. E sempre desesperado para confrontar quaisquer outros cães. Já Lucy, um doce. Uma dama. Educada. Porém, frágil.

Enquanto Valentina e Bia brincavam pelas areias da praça, os cães estavam sentados ali comigo. Todavia, quando Lucy tentou um salto, escorregou e bateu a cabeça na quina da calçada. Um trágico acidente. Em seguida, entrou em coma, corri com ela para uma clínica mais próxima. Não fui atendido. No hospital veterinário, uma médica educadíssima atendeu-me. Disse-me que faria de tudo para salvar Lucy, contudo pediu que me preparasse e, também, as minhas gurias. Na manhã seguinte fui avisado que ela havia falecido. No hospital a mesma médica me avisou que havia perdido o seu pai da mesma forma dias antes. Estavas, seu pai, a esperar um uber e de repente um carro deu ré e não viu o pai da doutora. O mesmo caiu e bateu a cabeça na quina da calçada. Em coma, veio a falecer em seguida. Triste.

Lucy deixou uma lacuna, e para alguns, até hoje, fui o culpado. Não carrego essa culpa, tão pouco me farto com mexericos e mentiras, mas o sentimento de impotência diante de uma fatalidade é imenso. Imagine para a guria médica que perdeu o pai da mesma forma.

*Sérgio Sant’Anna é Professor de Redação no Poliedro, Professor de Literatura no Colégio Adventista e Professor de Língua Portuguesa no Anglo.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.