13 de novembro de 2024
Geral

Mundo: A França rejeita a extrema-direita

O novo governo de coabitação.

Por: Luís J. Bassoli*

A França é um país enigmático, berço da democracia contemporânea; na Revolução Francesa (1789) surgiu os termos Esquerda e Direita.

Na Assembleia Constituinte, os defensores do rei e da nobreza ocuparam as cadeiras do lado direito; os simpatizantes da revolução as do lado esquerdo.

Tal disposição consolidou a nomenclatura do espectro político:

Esquerda são os progressistas, socialistas, social-democratas, secularistas (separam Estado e religião), ambientalistas, internacionalistas etc; e o subgrupo extrema-esquerda, os comunistas, anarquistas.

Direita são os conservadores, defensores do liberalismo econômico, monarquistas, teocratas, nacionalistas etc.

No início do século 20, ultrarreacionários descambam no nazifascismo, é o começo da extrema-direita.

Atualmente

Desde os anos 1990, a extrema-esquerda vem perdendo força, hoje restrita a pequenos grupos sem poder de influência.

Ressurgem movimentos ultraconservadores, de inspiração neofascista, e os chamados anarcocapitalistas.

E se consolidam os blocos moderados de centro, centro-esquerda e centro-direita.

França, século 21

A França inicia o milênio sob a presidência de Jacques Chirac (originário do Partido Comunista), eleito por uma coalizão de centro-direita; sucedido por Nicolas Sarkozy, do mesmo grupo.

Em seguida, é eleito François Hollande, do Partido Socialista (esquerda); sucedido pelo atual presidente, Emmanuel Macron, de centro.

Macron e Marine Le Pen

Macron filiou-se ao Partido Socialista em 2006, nomeado por François Hollande secretário-geral adjunto da presidência da República e, depois, ministro da Economia.

Em 2016, funda seu próprio partido, o Renascimento (de centro), e disputa a eleição presidecial no ano seguinte.

Macron derrotou Marine Le Pen, que entrou na política pelas mãos do pai, Jean-Marie Le Pen, tradicional líder da extrema-direita, cinco vezes candidato à presidência.

Ao assumir o lugar do pai, Marine ameniza o discurso radical e flexibiliza algumas opiniões: passa a defender a união homoafetiva e o direito ao aborto, o que a levou ao segundo turno e obter um terço dos votos.

Analistas sustentam que Marine Le Pen mudou o discurso por conveniência eleitoral, mas conservou os ideais da extrema-direita.

França, 2024

Diante da derrota na eleição para o Parlamento Europeu, Macron antecipou as eleições legislativas.

A extrema-direita venceu o primeiro turno, domingo (30/06), com a esquerda em segundo lugar, e a aliança de Macron em terceiro.

No segundo turno, domingo (07/07), a inversão: com o maior comparecimento do eleitorado em 40 anos, a esquerda venceu as eleições, a coligação de Macron em segundo e a extrema-direita em terceiro.

Vencedores e derrotados

O principal vencedor terá sido  Jean-Luc Mélenchon, tido como de extrema-esquerda, do partido com o sugestivo nome França Insubmissa, que liderou a vitoriosa coalizão de esquerda.

Na eleição de 2017, Mélenchon ficou em 4.º lugar, empatado com o candidato da direita, François Fillon – 0,4% de diferença.

A grande derrotada, dessa vez, foi a extrema-direita.

Jean-Luc Mélenchon, líder da coligação de esquerda, e Marine Le Pen, líder da extrema-direita.

Mesmo tendo aumentado o número de representantes no parlamento, a extremista Marine Le Pen dava a vitória como certa, e já preparava o jovem Jordan Bardella (28 anos) para ser primeiro-ministro.

Tido como “bom moço”, disciplinado e leal, Bardella é o substituto natural de Marine.

O presidente Macron sai enfraquecido do pleito, mas “aliviado” por conseguir evitar uma derrota pior.

Respeito à democracia

Ao contrário da extrema-direita brasileira e americana, ninguém questionou o resultado das urnas.

Semipresidencialismo

No confuso regime francês, o presidente da República é eleito pelo voto direto, com mandato de sete anos, e representa o Estado; o primeiro-ministro, também chamado de premiê, que representa o Governo, é indicado pelo presidente, dentre os deputados da Assembleia Nacional.

O Parlamento é bicameral: Senado, que visa aos interesses das regiões (estados) e dos residentes no exterior; e Assembleia Nacional, responsável pela Admiração pública.

A dificuldade do sistema francês se dá quando o partido do presidente da República não tem maioria na Assembleia Nacional, como acaba de acontecer.

O presidente não é obrigado a indicar o líder do partido mais votado para primeiro-ministro; geralmente, nomeia alguém que satisfaça a maioria dos deputados, sob pena de ser destituído do cargo pela Assembleia.

O futuro

A sucessão do primeiro-ministro Gabriel Attal, aliado de Macron, será uma disputa interessante.

Nenhum partido obteve maioria absoluta, a escolha do premiê dependerá de instrincadas negociações.

Presidente Emmanuel Macron, e o primeiro-ministro, Gabriel Attal.

Macron está diante do dilema de não ter um governo de coabitação muito à esquerda, tampouco negociar com a extrema-direita.

Os grupos de centro serão determinantes – para o bem da República e da Democracia.

Como dizia o ex-presidente John F. Kennedy: “Todo homem tem dois países: o dele e a França”.

(Com: France Presse; G1; UOL; Poder 360 e agências).

* Luís José Bassoli é advogado, professor de Geopolítica do Colégio Objetivo, ex-professor de Comércio Exterior da FATEC e ex-presidente da Câmara.