Laranja: Citricultura enfrenta a pior safra em três décadas
Produtores relatam queda prematura de frutos e prejuízos históricos devido à seca prolongada.
“Chacoalhou, vai pro chão,” lamenta o produtor rural Nivaldo Evaristo Davoglio, dono de uma fazenda com 35 mil pés de laranja em Taquaritinga (SP), na região de Ribeirão Preto (SP). Sua constatação resume um cenário desolador para a citricultura paulista, que representa cerca de 75% da produção brasileira. Com a seca prolongada e o calor acima da média, inclusive no inverno, os frutos estão menores e caindo das árvores mais cedo do que se esperava.
Sob o sol forte, com temperaturas acima dos 30ºC nos horários de pico e ausência de chuvas no final do ano passado e mais recentemente, os pomares ressecados reforçam não só uma projeção de queda de 25% da Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), mas também a expectativa de que esta seja a pior safra de laranja das últimas três décadas. O presidente do Sindicato Rural de Taquaritinga, Marco Antônio dos Santos, destaca as dificuldades enfrentadas pelos produtores.
“Tem muito pouca oferta de laranja em decorrência de que, na época da florada do ano passado, de setembro a novembro, não choveu, temperatura muito alta, calor muito intenso. Então dificultou no pegamento. Derrubou toda essa florada e o que sobrou efetivamente no pé vem caindo gradativamente, porque estamos passando por um período de seca prolongada,” explica Santos.
No município de Taquaritinga, essa é a realidade de 40 produtores, incluindo Nivaldo, que espera colher este ano fruta suficiente para completar 60 mil caixas de 40,8 quilos cada, menos da metade do que conseguiu em 2023, que foi 140 mil caixas. “Este ano, se chover e vingar essas, ainda eu recupero o prejuízo, se não, a quebra minha é de 50%,” afirma.
Quebra histórica e queda prematura
Segundo a Fundecitrus, a safra 2024/2025 no estado de São Paulo, Triângulo e Sudoeste mineiros deve chegar a 232 milhões de caixas, comparado a 308 milhões da safra anterior. Esse cenário já marcado por queda prematura de frutos a uma taxa de 19% e um prejuízo estimado de 72 milhões de caixas.
Parte dessa redução também se deve aos frutos menores. Para encher uma caixa de 40,8 quilos, na última safra foram necessárias 255 laranjas, oito a mais do que o esperado até então. O peso de cada fruto também ficou 5 gramas abaixo do esperado e 3 gramas abaixo da média dos últimos dez anos, em 160 gramas.
A projeção de produção para o próximo ciclo está bem abaixo do que o setor já registrou. Em 2003, por exemplo, esse volume chegou a 351 milhões de caixas, e em 2013 foi de 337 milhões. Desde 1970 no segmento, Nivaldo afirma que nunca viu nada parecido em sua lavoura. “Esse pomar está com 18, 20 anos, você não vê greening nele quase, mas se você por uma muda nova, pra você tirar essa muda você tem que pulverizar a cada oito dias, dez dias. Acredito que dentro de quatro a cinco anos nós não temos mais laranja aqui,” diz.
A citricultura paulista enfrenta um dos períodos mais críticos de sua história, com impactos profundos na produção e na economia local. A seca prolongada e o calor extremo têm desafiado os produtores, que buscam soluções para minimizar os prejuízos e garantir a sustentabilidade de suas lavouras no futuro. A esperança agora está nas próximas chuvas e nas medidas que possam ser adotadas para mitigar os efeitos das mudanças climáticas na região.
*Com informações da EPTV Ribeirão Preto