Artigo: O desejo das pessoas sérias
Por: Rodrigo Segantini
Demorou, mas aconteceu: Vanderlei Mársico foi afastado do trono taquaritinguense. Entrará para a história como o primeiro prefeito a ser afastado de seu mandato para apuração de fatos por suspeita de improbidade administrativa em razão de indicativos de desídia no exercício do cargo. Depois de manifestações dos servidores públicos, dos aposentados, dos empresários fornecedores e dos representantes de entidades, apesar do silêncio retumbante de alguns vereadores, a Justiça, acolhendo a um pedido do Ministério Público, decidiu que Vanderlei e seu braço-direito na administração deveriam ficar alguns dias distantes do balcão municipal para que seja possível ter clareza da real situação que Taquaritinga se encontra.
É evidente que Vanderlei Mársico deve estar aborrecido e magoado com isso, mas não pode imaginar que tal providência seja mesmo uma surpresa ou algo inesperado. Houve tantos sinais de que esse dia estava prestes a chegar que, para ser mais óbvio e evidente, faltaram apenas anjos descendo do céu tocando trombetas enquanto selos são rompidos. Não era para tanto. A movimentação de inconformismo e revolta dos prejudicados pela insuficiência e ineficiência da gestão municipal em colocar a casa em ordem já era o bastante para perceber que, mais cedo ou mais tarde, os responsáveis seriam chamados para prestar contas de seus atos.
Diante de tal ruptura, o vice Luiz Fernando foi chamado para segurar o timão do navio. É sua vez de mostrar agora a que veio. Apresentando-se como sempre participativo e atuante nas decisões municipais, o fato é que, até o momento, Luiz Fernando vinha evitando comprometer seu CPF ao penhorá-lo na porta do gabinete do prefeito – o que é muito sensato de sua parte. Prova disso é que sempre se esquivou da bomba de assumir o posto de herdeiro sucessor de Vanderlei, embora possa ter se sentido lisonjeado pela lembrança e consideração de seu grupo político e cogitá-lo nesta posição. Agora que a realidade se impôs à teoria, mesmo não querendo, Luiz Fernando terá que apor sua assinatura sobre os atos oficiais e assumir conjuntamente a parte que lhe caber do latifúndio de responsabilização que pode se constituir durante a apuração dos fatos da gestão de Vanderlei.
Houve gente que comemorou a notícia. Mas o que houve não deveria ser motivo de alegria para ninguém. Pelo contrário, é sinal de como Taquaritinga está indo mal. Afastar o prefeito por suspeita de má gestão é a cereja estragada que é colocada em cima de um bolo mofado. Em vez de se reunirem para celebrarem a queda de Vanderlei, as pessoas deveriam se unir para colaborar para que a cidade volte a progredir sob a liderança de Luiz Fernando, reconhecendo que essa lufada de novos ares pode ser uma chance de renovação e retomada.
Porém, o fato de torcermos pelo sucesso do prefeito em exercício e nos dispormos a colaborar no que pudermos e for preciso para que tudo dê certo durante seu tempo à frente da administração, isso não quer dizer, de forma alguma, que tudo está bem e que o que passou, passou. Nada disso. A situação é sim crítica e exigirá sim medidas muito enérgicas e dramáticas. Sobretudo, esse é um momento de sobriedade, coragem e austeridade. Seguindo na analogia culinária do parágrafo anterior, o bolo queimou, mas se o confeiteiro caprichar na cobertura e no recheio, talvez dê para salvá-lo e deixá-lo em gostoso e em condições de ser degustado.
A casa de Taquaritinga não caiu. A casa de Vanderlei Mársico talvez tenha dado uma abalada, tenha dado uma trincada, mas a casa de Taquaritinga ainda está de pé. Torcer contra a Prefeitura, torcer contra a Administração, é torcer contra a cidade, contra os destinos da cidade. Por isso, em vez de vociferarmos por aí “a casa caiu, a casa caiu!”, vamos nos manter unidos torcendo para que Luiz Fernando e quem estiver a seu lado seja capaz de reforçar os alicerces e a base onde a casa de Taquaritinga está assentada.
Por outro lado, àqueles que, lendo este texto, apesar de terem culpa no cartório, acharem que estão a salvo porque Vanderlei Mársico e Carlos Montanholi serão os bodes expiatórios que serão sacrificados para a remissão dos seus pecados, quero deixar claro que eu e todos da cidade estamos fervorosamente desejando que vocês se lasquem. Vocês, que por ação ou omissão, contribuíram para que Taquaritinga chegasse a este ponto ao longo desta gestão administrativa e que agora culpam Vanderlei por a situação estar neste ponto, esquecendo-se do quanto se refestelaram enquanto muitos choraram, quero que saibam que a hora de vocês também chegará e será em breve. Que ninguém que deu causa ao caos em que se encontram as contas públicas municipais ou que deveria ter feito algo para evitar chegar neste ponto e não fez possa dormir em paz enquanto os credores da Prefeitura também não puderem – é esse o desejo das pessoas sérias da cidade.
*Rodrigo Segantini é advogado, professor universitário, mestre em psicologia pela Famerp.
**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.