Artigo: O coringa fora do baralho
Por: Rodrigo Segantini*
Uma das coisas das quais tenho me orgulhado ultimamente é de não saber nada a respeito do que tem acontecido no Big Brother Brasil, o qual está surpreendentemente em sua 24ª edição. Creio que devo ter assistido as três ou quatro primeiras temporadas, mas depois perdeu a graça e então me dei conta da perda de tempo que é dedicar meus escassos períodos de descanso e ócio bisbilhotando a vida alheia e deixei isso de lado.
Porém, se não acompanho o que acontece no BBB, acompanho o que é falado nas emissoras de rádio da cidade, porque são veículos de comunicação fundamentais para sermos informados do que acontece em nossas vidas. Em vez de me dedicar para saber sobre a vida de famosos e anônimos confinados em um cenário onde passam o dia bebendo, comendo e fazendo fofoca, prefiro tomar ciência do que há em Taquaritinga. Edson Cândido e Auro Ferreira, com suas respectivas equipes de reportagem e produção, fazem um trabalho belíssimo para isso, com grande medida de responsabilidade, cada um a sua maneira.
Em uma das recentes edições do jornal apresentado por Auro Ferreira em uma das rádios da cidade, meu amigo Luiz Fernando Coelho da Rocha deu uma entrevista. Atual ocupante do cargo de vice-prefeito, ele esteve lá e, destemidamente, de peito aberto e informações na mão, respondeu de bate-e-pronto as perguntas feitas por seu interlocutor, de forma muito clara e objetiva. Você pode até não concordar com o que Luiz Fernando falou, você pode até se aborrecer com o que ele revelou, mas não dá para dizer que não houve franqueza de sua parte.
A política teria que ser assim. Afinal de contas, a divergência entre posicionamentos e ideias não deve ser motivo para inimizades ou rancores. Na prática, não é o que acontece. Se não concordamos com o posicionamento de alguém, automaticamente já o consideramos adversário a ser destruído. Em Taquaritinga, então, isso é muito mais grave. Todo mundo vai se lembrar dos clássicos embates Waldemar x Adail, Sérgio x Milton, Paulinho x Vanderlei… – e por aí vai. Isso faz com que, em vez de nos unirmos em torno de um mesmo propósito para solucionar os problemas da cidade, a gente lida com nossas dificuldades locais como se fôssemos torcedores assistindo a uma partida de Corinthians x Palmeiras.
Luiz Fernando chegou em um outro status na política local. Tendo ficado oito anos ao lado do grupo político de Paulinho Delgado, está completando oito anos ao lado do grupo político de Vanderlei Mársico. Embora possa apresentar críticas para um ou para o outro lado, de forma alguma profere ofensas. Isso porque, com bastante clareza, assume seu posicionamento e mantém sua posição, sempre coerente. Com isso, passou a ser visto como um fiel da balança, já que, tendo sido quadro dos dois grupos políticos mais relevantes dos últimos vinte anos, é capaz de transitar pelos matizes sem causar qualquer melindre. Por isso mesmo, passou a ser cobiçado como candidato a prefeito neste ano por diversos partidos.
Porém, em um anúncio bombástico durante a tal entrevista que prestou ao Auro Ferreira, enquanto prestava contas de sua atuação como gestor público na prefeitura, Luiz Fernando deixou claro que não será candidato a prefeito neste ano. Ele era visto como o coringa na manga de Vanderlei Mársico para sucedê-lo, bem como era a esperança de outros caciques para se cacifarem no ambiente político. Era saudado nas ruas e buscado pelo povo para que se lançasse em campanha. Contudo, sem nenhuma dúvida e com muita transparência, disse que não será candidato a prefeito, o que certamente causa certa frustração em alguns e alívio em outros.
Faz bem Luiz Fernando. A dedicação a um programa político consome muito o indivíduo e Luiz Fernando dedicou muitos anos de sua vida em prol de Taquaritinga, cumpriu bem sua missão como homem público. Voltando a sua posição de cidadão, voltará com a respeitabilidade preservada e seu nome certamente será colocado em nosso panteão dos grandes nomes que atenderam ao chamado vocacional e prestaram serviços à nossa gente na condição de vice-prefeito, como Waldemar D’Ambrósio, Horácio Ramalho, Fued Simão, José Maria Modesto e Antonio Carlos Dib Jorge.
Além disso, convenhamos, por mais que possa se dizer que Vanderlei Mársico e sua equipe tenha empenhado todos os esforços para ter uma gestão exitosa, o fato indubitável é que aquele que se sentar na maior cadeira de prefeito a partir do ano que vem não terá uma vida fácil. Serão tempos que exigirão do alcaide enormes sacrifícios. Depois de tudo o que fez por Taquaritinga, Luiz Fernando não merece isso – nem ele, nem a Márcia, nem a Tauana e nem o Caíque. Luiz Fernando merece reconhecimento e gratidão. E isso, certamente ele terá se mantiver a postura que sempre teve até aqui.
E, já que a gente começou o texto falando em Big Brother Brasil, a pergunta que não quer calar: quem serão os candidatos que vão para o paredão da urna municipal taquaritinguense? Resta-nos seguir acompanhando os próximos episódios deste reality show.
*Rodrigo Segantini é advogado, professor universitário, mestre em psicologia pela Famerp.
**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.