22 de novembro de 2024
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Artigo: Milei X Milei – que Argentina surgirá?

Por: Luís Bassoli*

A ministra designada do Ministério das Relações Exteriores da Argentina, Diana Mondino, esteve em Brasília para encontro com o chanceler brasileiro Mauro Vieira.

Diana trouxe uma carta do presidente eleito, Javier Milei, ao presidente Lula, convidando-o para sua posse.

Na carta, Milei demostra significativa mudança no discurso, agressivo, adotado na campanha eleitoral, ao falar de “construção de laços” e “ação conjunta” com o governo Lula.

Escreveu: “Sabemos que nossos dois países estão intimamente ligados pela geografia e pela história; desejamos continuar compartilhando áreas de complementaridade, o que permitirá que toda essa ação conjunta se traduza em crescimento e prosperidade”.

Milei acrescentou: “Espero que nosso tempo juntos como Presidentes e Chefes de Governo seja um período de trabalho frutífero e de construção de laços”.

A futura chanceler concluiu: “Brasil e Argentina sempre estiveram juntos e sempre trabalharão juntos”.

Mercosul

Outra mudança importante se deu em relação ao Mercosul.

Milei já se referiu ao bloco como “uma união aduaneira defeituosa”, gerando rumores de que retiraria a Argentina da Organização.

Porém, a futura chanceler deixou claro que o governo argentino não irá tirar o país do bloco, ao contrário, declarou que o “Mercosul poderia trabalhar mais conjuntamente em benefício dos quatro membros”.

Foto: Agustin Marcarian – Crédito: REUTERS

Mudanças climáticas

O então candidato Milei apresentava um negacionismo quanto ao aquecimento global, cogitando deixar o Acordo de Paris sobre Mudanças Climáticas, subscrito por 194 países.

Na visita à Brasília, a chanceler designada indicou uma mudança do negacionismo de Milei ao sugerir que o tema seja tratado com “maior coordenação entre os países do Mercosul”, em função do “potencial dos membros em absorver carbono”.

Processo eleitoral

Durante a campanha, Milei levantou suspeitas, sem apresentar provas, de risco de haver fraude no sistema eleitoral de seu país.

Já no discurso de vitória, mudou o tom e agradeceu aos fiscais eleitorais, de seu partido e dos ligados ao governo e ao candidato derrotado.

China

Milei defendia romper relações com a China, pois, segundo ele, “não se pode confiar em comunistas”.

Após a eleição, o porta-voz do ministério de Relações Exteriores chinês, Mao Ning, reagiu: “Seria um grande erro diplomático para a Argentina cortar laços com grandes países como China ou Brasil, queremos manter estáveis as relações”.

Milei parece ter “compreendido o recado”. Na semana passada, a ministra designada Diana recebeu o embaixador chinês na Argentina, Wang Wei, em Buenos Aires.

Wei entregou uma carta do presidente Xi Jinping a Milei, felicitando-o pela vitória e reiterando o desejo de   “trabalhar na amizade entre os dois países”.

Milei respondeu pelo twitter: “Agradeço ao Presidente Xi Jinping as felicitações. Envio meus mais sinceros votos de bem-estar do povo da China”.

EUA

Javier Milei embarca domingo (26/11) para os EUA. Não se encontrará com o presidente Joe Biden; se reunirá com o Conselheiro Nacional para a América Latina, Juan González.

O argentino é apoiador de Donald Trump, por isso, as relações com Washington ainda são uma incógnita.

BRICS

Na reunião com o chanceler brasileiro, a futura chanceler argentina revelou a hesitação de Milei em aderir ao BRICS.

Na última cúpula do bloco, formado por Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul, foi dado o aval para a entrada de mais 6 países: Arábia Saudita, Irã, Egito, Emirados Árabes, Etiópia – e a Argentina.

Todos haviam pedido para ingressar no bloco, outros 14 estão na “lista de espera”: Argélia, Turquia, Paquistão, Baheim, Kuweit, Tailândia, Venezuela, Bolívia etc.

“Até agora não vemos que vantagem a Argentina teria ao aderir ao BRICS”, disse Diana.

Futuro incerto

Logo após a confirmação de sua eleição, o futuro presidente proferiu a frase enigmática: “Uma forma de fazer política acabou e outra começa”.

Estaria Javier Milei se referindo à uma mudança de comportamento pré-eleitoral para um modo pragmático de governar?

A conferir.

* Luís Bassoli é advogado e ex-presidente da Câmara Municipal de Taquaritinga (SP).

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.