Artigo: Milei X Milei – que Argentina surgirá?
Por: Luís Bassoli*
A ministra designada do Ministério das Relações Exteriores da Argentina, Diana Mondino, esteve em Brasília para encontro com o chanceler brasileiro Mauro Vieira.
Diana trouxe uma carta do presidente eleito, Javier Milei, ao presidente Lula, convidando-o para sua posse.
Na carta, Milei demostra significativa mudança no discurso, agressivo, adotado na campanha eleitoral, ao falar de “construção de laços” e “ação conjunta” com o governo Lula.
Escreveu: “Sabemos que nossos dois países estão intimamente ligados pela geografia e pela história; desejamos continuar compartilhando áreas de complementaridade, o que permitirá que toda essa ação conjunta se traduza em crescimento e prosperidade”.
Milei acrescentou: “Espero que nosso tempo juntos como Presidentes e Chefes de Governo seja um período de trabalho frutífero e de construção de laços”.
A futura chanceler concluiu: “Brasil e Argentina sempre estiveram juntos e sempre trabalharão juntos”.
Mercosul
Outra mudança importante se deu em relação ao Mercosul.
Milei já se referiu ao bloco como “uma união aduaneira defeituosa”, gerando rumores de que retiraria a Argentina da Organização.
Porém, a futura chanceler deixou claro que o governo argentino não irá tirar o país do bloco, ao contrário, declarou que o “Mercosul poderia trabalhar mais conjuntamente em benefício dos quatro membros”.
Mudanças climáticas
O então candidato Milei apresentava um negacionismo quanto ao aquecimento global, cogitando deixar o Acordo de Paris sobre Mudanças Climáticas, subscrito por 194 países.
Na visita à Brasília, a chanceler designada indicou uma mudança do negacionismo de Milei ao sugerir que o tema seja tratado com “maior coordenação entre os países do Mercosul”, em função do “potencial dos membros em absorver carbono”.
Processo eleitoral
Durante a campanha, Milei levantou suspeitas, sem apresentar provas, de risco de haver fraude no sistema eleitoral de seu país.
Já no discurso de vitória, mudou o tom e agradeceu aos fiscais eleitorais, de seu partido e dos ligados ao governo e ao candidato derrotado.
China
Milei defendia romper relações com a China, pois, segundo ele, “não se pode confiar em comunistas”.
Após a eleição, o porta-voz do ministério de Relações Exteriores chinês, Mao Ning, reagiu: “Seria um grande erro diplomático para a Argentina cortar laços com grandes países como China ou Brasil, queremos manter estáveis as relações”.
Milei parece ter “compreendido o recado”. Na semana passada, a ministra designada Diana recebeu o embaixador chinês na Argentina, Wang Wei, em Buenos Aires.
Wei entregou uma carta do presidente Xi Jinping a Milei, felicitando-o pela vitória e reiterando o desejo de “trabalhar na amizade entre os dois países”.
Milei respondeu pelo twitter: “Agradeço ao Presidente Xi Jinping as felicitações. Envio meus mais sinceros votos de bem-estar do povo da China”.
EUA
Javier Milei embarca domingo (26/11) para os EUA. Não se encontrará com o presidente Joe Biden; se reunirá com o Conselheiro Nacional para a América Latina, Juan González.
O argentino é apoiador de Donald Trump, por isso, as relações com Washington ainda são uma incógnita.
BRICS
Na reunião com o chanceler brasileiro, a futura chanceler argentina revelou a hesitação de Milei em aderir ao BRICS.
Na última cúpula do bloco, formado por Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul, foi dado o aval para a entrada de mais 6 países: Arábia Saudita, Irã, Egito, Emirados Árabes, Etiópia – e a Argentina.
Todos haviam pedido para ingressar no bloco, outros 14 estão na “lista de espera”: Argélia, Turquia, Paquistão, Baheim, Kuweit, Tailândia, Venezuela, Bolívia etc.
“Até agora não vemos que vantagem a Argentina teria ao aderir ao BRICS”, disse Diana.
Futuro incerto
Logo após a confirmação de sua eleição, o futuro presidente proferiu a frase enigmática: “Uma forma de fazer política acabou e outra começa”.
Estaria Javier Milei se referindo à uma mudança de comportamento pré-eleitoral para um modo pragmático de governar?
A conferir.
* Luís Bassoli é advogado e ex-presidente da Câmara Municipal de Taquaritinga (SP).
**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.