2 de novembro de 2024
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Crônica: Mês da Consciência Negra – a literatura como forma de resistência

Por:  Sérgio Sant’Anna*

O Brasil é o país com a maior população negra fora da África.  A zona portuária do Rio de Janeiro – bairros da Saúde, Gamboa e Praça Mauá – era conhecida no século XIX como pequena África devido à grande concentração de negros naquela região. Nessa região, eram vendidos os escravos e ali nasceu o samba – resultado da adaptação de sons africanos e posteriormente reconhecido como um bem imaterial do Brasil. O que, por vezes, nos falta é a lembrança de que a cultura negra também foi tema da literatura brasileira. Nossa literatura é, desde o século XIX, um instrumento de resistência e divulgação desta cultura.

É por isso que o nosso Clube do Livro fará referência aos autores negros brasileiros e a literatura que luta por uma sociedade mais justa e igualitária.

a produção literária hegemônica de autoria branca – que acaba por adentrar nossas bibliotecas e salas de aula – ainda que inclua personagens negros em suas obras, por muitas vezes reproduzir tipos e argumentos racistas e esvaziados de subjetividade, contribuiu para o apagamento do sujeito negro.

Por outro lado, embora historiografias da literatura brasileira ignorem, outras vozes existiram. Autoras e autores negros não se deixaram calar e aproveitaram-se de brechas, ainda que a estrutura racista desfavorecesse suas produções.

É assim que identificamos, ainda no século XIX, nomes como Domingos Caldas Barbosa (1738-1800), Maria Firmina dos Reis (1822-1927), Luís Gama (1830-1882), Machado de Assis (1839-1908) Cruz e Souza (1861-1898), que sobreviveram ao esquecimento e à invisibilização.

No início do século XX, ganham destaque Lima Barreto (1881-1922), Antonieta de Barros (1901-1952) e Solano Trindade (1908-1974) que, apesar de limites impostos, difundem produções enredadas por aspectos raciais e sociais, e abrem portas para autora(e)s da segunda metade do século.

Fortalecem-se aí produções literárias de autoria negra que assumem seu pertencimento étnico e criam uma literatura comprometida com as questões raciais, a exemplo de Carolina Maria de Jesus (1914-1977), Abdias do Nascimento (1914-2011) e de autores dos Cadernos Negros como: Oswaldo de Camargo (1936), Conceição Evaristo (1946), Geni Guimarães (1947), Cuti (1951), Miriam Alves (1952), Esmeralda Ribeiro (1958) e Márcio Barbosa (1959).

Temos ainda nomes fundamentais como Cidinha da Silva (1967), Ana Maria Gonçalves (1970), Cristiane Sobral (1974) e Lívia Natália (1979).

A nova geração de escritora(e)s negra(o)s brasileira(o)s desponta nos séculos XXI tendo, principalmente, a internet, saraus e slams como grandes aliados para a divulgação de suas obras.

É assim que passamos a conhecer figuras brilhantes como: Jefferson Tenório (1978) Nina Rizzi (1983), Jennyffer Nascimento (1984), Mel Duarte (1988), Luz Ribeiro (1988), Jarid Arraes (1991), entre outras.

* Sérgio Sant’Anna é Professor de Língua Portuguesa do Anglo e COC Professor de Redação da Rede Adventista e Jornalista.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.