Crônica: Saia do Google e vá ler um livro
Por: Sérgio Sant’Anna*
Alguns insistem em afirmar que estamos diante de uma geração perdida quando o assunto endereça-se ao mundo do conhecimento. Não só o mundo contemplado pelas teorias e obras, mas também aquele pragmático. Estamos diante de cidadãos que se acostumaram a buscar suas informações apenas pela internet. Lembro-me sempre de um amigo, professor de História que afirmava: “O Google é o meu pastor, nada me faltará”. É assim, embora tenhamos uma boa parte de jovens e adultos, que contemplam os livros, pesquisam, leem de maneira voraz e são a exceção em um País que se acostumou a flertar com mentira, chegando ao casamento perfeito com a ascensão de uma trupe ao poder na penúltima eleição presidencial. Havia um esquadrão disposto a qualquer coisa para usufruir das benesses do Poder. Uma tropa que contou com cidadãos de todas as esferas, desde o mais pobre ao ricaço; do paciente ao médico; do aluno ao professor; etc.
O advogado Hery Kattwinkel, que confundiu as obras, “O Príncipe”, de Maquiavel e “O Pequeno Príncipe”, de Saint-Exupery é mais amostra dessa ignorância que é propagada não só por um vírus que acomete aos estudantes brasileiros, porém àqueles que ainda acreditam que a Terra seja plana, adeptos ao patriotismo e avessos à democracia; os cidadãos de bem, favoráveis às torturas, contrários às eleições diretas, favoráveis à ditadura. Cidadãos que carregam em seus poros cristãos o azedo da mentira, o desprezo alimentado pela antipatia, a meritocracia embasada na defesa dos mais poderosos; homens e mulheres acostumados às páginas policiais, contudo defendidos por aqueles que ainda compactuam da mesma ignorância. Seria necessário um novo Iluminismo. Parece que vivemos na Idade Média. Os de bem são os que semeiam o mal, lançam a mentira encontrada na internet. A Pós-Verdade é eufemicamente tratada como Fake News para aliviar a “capivara” dos de bem.
O livro não perdeu sua essência: o conhecimento, porém ganhou um inimigo de peso, a internet. E pasmem, não é a internet a vilã da situação, mas sim aqueles que não sabem usufruir dos seus benefícios. O historiador e escritor Leandro Karnal afirma: “A diferença entre o veneno e o remédio é a dose”. O uso excessivo das redes sociais levou duas gerações ao buraco por não saber usá-las. Gerações que conhecem o mundo através de um click, mas que não são capazes de diferenciar o perfume das flores, absorver uma fruta no pé ou mesmo caminhar descalços pelo chão de suas casas; gerações que o livro é apenas encosto para móveis ou suporte para telas de computadores. Gerações em que o livro é semeado como muito caro, mas o celular é algo a ser trocado anualmente. Gerações que encontraram tudo pronto, não precisam nem mais pensar, pois já há a Inteligência Artificial que faz tudo por eles. Estamos diante de seres patéticos, ávidos por likes, mas insensíveis com a dor humana; seres guiados por remédios, mas crescentes pelo consumismo. Quando indagados sobre a última leitura, respondem que só leem manchetes… Esse é o cidadão a ser enganado, aquele que acredita nessa legião que semeia o mal e se cobre com o manto do bem. Cidadãos capazes de destruírem o Sistema de Ensino Nacional, alimentados pelo fechamento de escolas e a mentira da existência de professores doutrinadores. Pobre Mãe Gentil. Pátria que busca estabelecer a Ordem, todavia é ávida pelo Amor que dela fora retirado.
Há que se combater o Mal com o fervor da Justiça e o alicerce da racionalidade. Neste País não cabe mais espaço para propagação da ignorância, muito menos para a contemplação da burrice. O alimento é o livro, e as redes sociais que sejam dosadas com parcimônia. Ah, não sabe o que é isto, busque um dicionário, porém não dê um google.
* Sérgio Sant’Anna é Professor de Língua Portuguesa do Anglo e COC Professor de Redação da Rede Adventista e Jornalista.
**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.