Artigo: A Deus, misericórdia
Por: Rodrigo Segantini*
Quando Jair Bolsonaro era presidente da República, vivia cercado de apoiadores. Milhares de pessoas o cercavam e, pilotando suas motos ou empunhando bandeiras, bradavam palavras de ordem em favor do que diziam que seria um país melhor, mais próspero e mais justo. A sanha deste pessoal era tão grande que, quando Bolsonaro foi derrotado nas urnas pelo seu adversário na disputa eleitoral para um mandato presidencial, armaram acampamentos em frente de instalações militares pedindo providências das Forças Armadas. Estavam tão convictos de suas razões que, em 08 de janeiro deste ano, estavam dispostos a derrubar os prédios dos poderes federais em Brasília apenas para mostrarem do que são capazes de fazer em favor de seu líder.
Hoje, Jair Bolsonaro tem estado cada vez mais sozinho. Começou com a história de que haveria joias que, tendo sido dados ao Brasil como presente para serem usadas pelo chefe de estado, poderiam ter sido apropriadas pela pessoa física do sêo Jair a ponto de serem oferecidas à venda ou a penhor. Depois, evoluiu para a possibilidade de cartões de vacinação contra a covid-19 terem sido emitidos em seu favor, o que claramente seria uma falsidade à vista de sua defesa proeminente contra a imunização coletiva. E agora, para a surpresa de zero pessoas, está sendo investigada a participação ou até a colaboração de Bolsonaro na disseminação de notícias falsas para desestabilizar as instituições da República e criar um ambiente de tensão social contra os poderes constituídos. Agora, em vez, de se ver cercado por apoiadores, há policiais, membros do Ministério Público e do Tribunal de Contas e adversários a seu redor, tal como hienas que rondam um leão ferido antes de vitimá-lo.
Assim é a vida de alguém que, ainda que tenha alcançado o auge do poder, não soube andar no estreito fio entre a responsabilidade fiscal e a probidade administrativa. Não é fácil ser gestor público, pois há muito para ser feito, há pouco para poder fazer e há inúmeros fardos e bordas por onde os recursos escorrem impiedosamente. Se, em vez de se sentar em seu gabinete e se dedicar diuturnamente em fazer caber as demandas da população no pouquinho de margem que sobra do orçamento público, o administrador sofrerá os reveses e as consequências de sua decisão incorreta. Se, além disso, resolver agradar o povo afim de conquistar seu afeto, descobrirá, mais cedo ou mais tarde, o significado das palavras infidelidade e ingratidão.
Isso aconteceu com Jair Bolsonaro, que agora está sozinho, vendo que aquela multidão que o apoiava e batia palmas para suas peripécias desapareceu, como um devaneio de um lunático. Dos muitos amigos que tinha, poucos ainda estão juntos de si e alguns dos que estão apenas esperam um dia se tornarem herdeiros do que restar do espólio de seu curral eleitoral. O futuro que o aguarda, seja em um banco dos réus, seja nos livros de história, não parece ser algo tão vistoso como as medalhas ostentadas no peito de um tenente-coronel, mesmo que, sob a insígnia de ajudante de ordens, não tenha passado de um lacaio, de um menino de recados.
Isso também aconteceu com outras pessoas quando deixaram o poder. Geraldo Alckmin, que foi um excepcional governador do estado, ao deixar o Palácio dos Bandeirantes, foi alijado do centro de decisões por alguns de seus antes leais companheiros, a ponto de achar melhor deixar o ninho dos tucanos e procurar abrigo em outra freguesia. Com meu querido amigo Paulinho Delgado aconteceu algo parecido ao deixar a Prefeitura Municipal, pois, apesar de ter promovido uma verdadeira revolução na administração pública taquaritinguense, foi alvejado nas costas por adversários na primeira oportunidade que tiveram e levou anos para provar sua completa inocência e o quanto eram injustas as descabidas acusações que tentaram lhe imputar.
Não que eu queira ser o profeta do apocalipse, mas isso acontecerá também com Vanderlei Mársico. Ao contrário de Jair Bolsonaro, que contou com milhares de apoiadores bradando seu nome e pedindo para que se tornasse uma espécie de ditador ou autocrata, Vanderlei já tem percebido que em breve deverá estar mais solitário do que jamais pensou que um dia estaria. Ao contrário de Geraldo Alckmin, que foi colocado de canto dentro de seu grupo político a ponto de ter preferido bater em retirada para seguir empenhando sua boa reputação e seus préstimos em outro partido, Vanderlei perceberá que dificilmente encontrará alguma agremiação que irá acolhê-lo em seus quadros. Ao contrário de Paulinho Delgado, as acusações contra Vanderlei já estão sendo lançadas antes do fim de seu mandato e não são nem descabidas, nem injustas.
Dizem que Jair Bolsonaro pode ser preso. Não quer dizer muita coisa. Lula foi preso e hoje é presidente. Mas presidente é uma coisa, prefeito é outra. Cada vez que fico sabendo de alguma notícia sobre o futuro tenebroso que aguarda Jair Bolsonaro, compadeço-me de Vanderlei Mársico. Não desejo mal a ninguém e por isso, a ele, minhas orações – e, ao povo de Taquaritinga, peço a Deus misericórdia.
*Rodrigo Segantini é advogado, professor universitário, mestre em psicologia pela Famerp.
**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.