20 de novembro de 2024
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Artigo: Débitos e prantos no aniversário de Taquaritinga

Por: Isabela Nascimento*

Às vésperas da celebração dos 131 anos de emancipação político-administrativa da cidade de Taquaritinga, a população se encontra em uma espécie de luto festivo: uma data a se comemorar, porém, sem motivos ou recursos para tal comemoração.

A verdade é que todos os problemas da gestão municipal maquiados pela instalação dos patinhos na eleição de 2020, vieram à tona de uma vez em 2023. Com tinta nova ou não, os pedalinhos da antiga represa Colombo não dão mais conta de entreter os munícipes diante das irregularidades empilhadas na mesa do Executivo.

Desde o início do ano, vimos um show de negligências e irresponsabilidades em quase todos os setores de serviço à população, a citar: escolas sem insumos básicos, falta de coleta de lixo hospitalar, falta de dinheiro para combustível das ambulâncias, não pagamento de pedágio para pacientes que se deslocam para outras cidades, carência de remédios na farmácia popular, falta de vagas nas creches, obras paradas, ausência de funcionários para a educação infantil, falta de repasse para a Santa Casa, descaso no IMPRENT, auxílio-transporte dos estudantes com meses de atraso, entre outros. Tantos outros.

Nos últimos dois meses, nossa cidade foi parar na programação da EPTV por duas vezes com temas parecidos: atrasos no pagamento dos servidores ativos e inativos da prefeitura. Esses problemas geraram manifestações e reivindicações, as quais foram, muitas vezes, recebidas com desdém, desrespeito ou até mesmo ameaças.

E agora, quando não há mais desculpas a serem dadas e as notificações da Promotoria da justiça começam a chegar, ouve-se por aí um discurso inflamado de que: “Devemos nos unir”, “Deixemos as diferenças de lado”. Entretanto, me pergunto: quando considerar essas máximas? Apenas quando convém para a politicagem barata? Ou ainda para escamotear a identidade de quem deixou chegar a esse ponto?

Ocorre aí a apropriação indevida do discurso pacifista, com o objetivo de sensibilizar a população e afastar o debate que, verdadeiramente, é necessário.

A ideia é que aqueles que protestam pelos seus direitos sejam vistos como conflituosos, e que aqueles que cobram e criticam sejam chamados “problematizadores”. Querem nos convencer de que a atitude passiva e colaborativa é a mais adequada neste momento.

Pela cidade, lamento sim. Mas não me comove o pranto de quem é ruim.

Foram anos de atitudes arbitrárias, gastos excessivos e supérfluos, críticas frequentes às gestões anteriores, ataques constantes a tantos membros da oposição, censura de manifestações e incitação à rivalidade partidária. Quem se lembra das ofensas gratuitas, mentiras e calúnias proferidas pelo radialista antes, durante e depois o período eleitoral de 2022? Em momento algum, houve sensibilidade ou sentimento de união por parte de tais figuras, seja no âmbito nacional ou municipal.

Somente agora é chegada a hora de união (?) percebam tamanha contradição.

O aniversário da cidade neste ano deve ser para todos nós uma data de reflexão, de enxergar as potencialidades que Taquaritinga possui e que merecem ser exploradas por aqueles que realmente querem fazer da política um lugar de trabalho sério, bem comum e igualdade social. Por amarmos nossa cidade é que lamentamos vê-la assim. Que a união tão evocada esteja sempre acompanhada da retidão e da honestidade.

Parabéns a todos os artistas, profissionais, trabalhadores, jovens, adultos, idosos e crianças que enchem de vida e vigor esse lugar!

*Isabela Nascimento é Professora de Redação e Espanhol, Bacharela em Letras e Mestra em Estudos Literários.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.