23 de dezembro de 2024
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Artigo: Delenda est Carthago

Por: Rodrigo Segantini*

Escrevo neste jornal de forma diletante vez ou outra a convite do seu editor e Gabriel Bagliotti e pelo apreço que tenho à história de O Defensor. 25 anos atrás, quando chegava à Taquaritinga, este glorioso semanário estava sob os cuidados do jornalista Paulinho Delgado, que então nem tornava pública sua ideia de um dia ser vereador, quiçá prefeito, e ele me convidou para também ter uma coluna. Foi assim que me tornei seu amigo e daí me integrei ao grupo político do qual ele participava e se propunha a discutir propostas para mudar a gestão pública da cidade, o que culminou em sua eleição como prefeito por dois mandatos consecutivos.

Neste meio tempo, como colaborador diletante de O Defensor, vi o jornal passar por várias transformações, desde a qualidade de sua impressão até sua forma de distribuição e também sua administração. Acompanhei de perto quando o jornal passou a ser colorido, voltou a ser preto-e-branco; passou a ter dezesseis páginas, passou a ter quatro, depois oito e então eletrônico; passou a custar R$ 1, depois foi gratuito; era do Paulinho, depois foi do Marcos Bonilla e agora do Gabriel Bagliotti. Muitas mudanças aconteceram ao longo dos anos desde que acompanho a história desta publicação, da qual guardo tanto carinho e consideração.

Foi por essas páginas então que acompanhei a história de Taquaritinga, não apenas os relatos recentes como seu leitor e colaborador, mas também graças às narrativas de tempos pretéritos, sobretudo as feitas pelos saudosos Tuca Sant’anna e professor Arnaldo Ruy Pastore. Conheço razoavelmente bem nossa cidade porque acompanho O Defensor há mais de 25 anos ininterruptamente.

Quando Gabriel Bagliotti me avisa que chegou minha vez de escrever algumas linhas para preencher um espaço no jornal, sempre me passa uma lista dos assuntos do momento para que eu possa tentar tratar de algum assunto minimamente interessante e que possa chamar a atenção de um ou outro incauto que, por acaso, trombe em minha redação desavisadamente. De vez em quando, aparece um que elogia esses rascunhos; de vez em quando, surge um que concorda com minha opinião. Houve uma semana em que Gustavo Girotto disse que concordava com meu ponto de vista e até mesmo o professor Sérgio Sant’anna saudou meus rabiscos. Enfim, parece que às vezes acerto nos temas que abordo.

Porém, infelizmente, nas últimas semanas, Gabriel Bagliotti sempre tem me reportado que o assunto a ser abordado é o caos financeiro da Prefeitura e a situação de penúria que o funcionalismo se encontra por conta disso. Já escrevi só este ano uma meia dúzia de textos falando a respeito de tal situação e é realmente lamentável que aparentemente nada esteja sendo feito para reverter esse quadro. Fora um esperneio ou outro por parte de um vereador ou mesmo por parte dos servidores, parece que nada é capaz de sensibilizar os corações dos gestores públicos da cidade, pois tal condição segue sendo a pauta mais relevante do noticiário.

Ou, pior do que isso, não se trate de uma questão de insensibilidade ou de frieza, mas realmente de calamidade. Pode ser que o prefeito Vanderlei Mársico não esteja resolvendo o problema das contas públicas porque de fato eles não tem solução – e, como dizem os antigos, o que não tem solução solucionado está. Não adianta panelaço, não adianta passeatas, não adianta nem choro, nem ranger de dentes: a Prefeitura não tem dinheiro. Ponto. E, sem dinheiro, não dá para pagar aos credores, sejam servidores, aposentados ou mesmo fornecedores.

Se não adianta chorar, aparentemente não adiantaria a Imprensa também acusar tal situação dramática. Mas, sim, adianta sim reclamar, chorar e espernear e, sobretudo, os órgãos de notícias sempre denunciarem tais fatos. Quem nos ensina isso é uma lição passada por Catão, senador da Roma Antiga. No século II a.C., quando Roma estava em um período de tensão contra sua rival Cartago, a cada vez que Catão subia no púlpito do Senado romano para abordar qualquer assunto, concluía seus discursos dizendo “Considero ainda que Cartago deve ser destruída” – ou, abreviadamente e em latim, “Delenda est Carthago”. De tanto falar isso, sua ideia foi contagiando a população, até que finalmente se tornou um senso comum e a República Romana se organizou para ir lá e destruir Cartago.

Apesar do aparente esforço de alguns políticos em destruir Taquaritinga, não é a cidade que precisa ser destruída. O que precisa ser destruída é a hipocrisia de seus homens públicos, que dizem amá-la e a seu povo, mas não dão uma prova disso. Pelo contrário, sangram-na e sangram seus cofres sem dó nem piedade, fazendo agora a população sofrer com a falta de dinheiro circulando no comércio local pelo atraso no pagamento dos salários dos servidores, aposentados e pensionistas, além de fornecedores mesmo essenciais. O nome deste jornal é O Defensor por uma razão: porque aqui é para se defender os interesses do povo. Então, se é chato ficar malhando frio e reclamando da falta de providências da administração municipal em saldar seus compromissos, me desculpem por insistir no tema, mas é necessário seguir tratando deste assunto até que alguma coisa seja feita, seja pelo prefeito, seja pelos vereadores, seja pelo Ministério Público, seja pelos órgãos de controle, seja pelo Judiciário.

*Rodrigo Segantini é advogado, professor universitário, mestre em psicologia pela Famerp.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.