22 de novembro de 2024
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Artigo: Palavra de mãe tem poder

Por: Carlos Galuban Neto*

Obedeça a sua mãe. A advertência é famosa, mas poucas vezes foi tão verdadeira quanto na história contada pelo recém-lançado “Air – a História por trás do logo”, filme dirigido por Ben Affleck e estrelado pelos brilhantes Matt Damon e Viola Davis.

Estamos nos anos 80 e o jovem Michael Jordan, que acaba de ser selecionado em 3º lugar no draft da NBA, é cobiçado pelas duas principais marcas esportivas da época: a Converse, que também patrocinava os maiores astros do momento, Larry Bird e Magic Johnson, e era líder do mercado de basquete; e a Adidas, que certamente produzia os tênis mais estilosos e confortáveis aos atletas.

Do outro lado, havia a Nike, o patinho feio do basquete, que detinha apenas 17% do mercado da modalidade, estando mais associada a gente de meia idade que, na minha opinião, praticava o que há de mais entediante e sem sentido na atividade física, a corrida. A situação da marca no segmento do basquete era tão trágica que seu fundador e à época CEO, Phil Knight, vinha sendo pressionado pelo conselho da administração a fechar tal divisão da empresa.

Ou seja, Jordan não queria nem ouvir o que a Nike tinha a dizer e provavelmente jamais teria ouvido se não fosse pela determinação de um olheiro da empresa que, passando por cima até mesmo do empresário do jogador, convenceu a mãe do atleta a forçá-lo a ao menos considerar a proposta da marca.

E a proposta veio. Sem orçamento para competir com as vantagens financeiras prometidas pelas concorrentes, a Nike optou por convencê-lo por meio do ego: apresentou um projeto em que Jordan brilharia sozinho, diferentemente do que ocorreria na Converse e na Adidas, materializando tal exclusividade com o desenvolvimento de um tênis moldado especialmente ao jogador, um tal de Air Jordan.

A mãe de Michael, que, melhor do que ninguém, sabia o que o filho estava prestes a se tornar, convenceu-o a aceitar o contrato, mas não sem antes estabelecer uma condição que revolucionaria o mercado de patrocínio de atletas: o garoto teria direito a 5% de todas as vendas de produtos da Air Jordan.

Desesperada para finalmente se tornar respeitada no ramo do basquete, a Nike topou o acordo, que jamais seria aceito por suas concorrentes, então consideradas grandes demais para se rebaixarem às exigências de um garoto recém-saído da faculdade. A história, como sabemos, deu razão à mãe do jovem atleta: atualmente, Jordan é dono de uma fortuna estimada em 1,7 bilhão de dólares e, apenas em 2022, faturou 255 milhões de dólares com a Air Jordan, mais do que ganhou em salários durante toda a sua carreira.

Atento à lição do filme, já estou precavido: nunca mais saio de casa sem agasalho e já não comi carne vermelha na última Sexta-Feira Santa. Palavra de mãe, afinal, tem um poder e tanto. A conta bancária de Michael Jordan que o diga.

*Carlos Galuban Neto é advogado formado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.