Artigo: 40 anos da lenda
Por: Rodrigo Segantini
Por onde quer que eu vá, quando digo que sou de Taquaritinga, a primeira referência que as pessoas fazem com nossa cidade é com o Taquarão. Parece que todo mundo com quem me relaciono pelo Brasil afora sabe a história do estádio construído em 90 dias pelo próprio povo para que o time da cidade pudesse disputar o campeonato de futebol na categoria de elite. Particularmente, me orgulho muito quando presencio isso e percebo que meus interlocutores também se orgulham de conhecer essa história, a qual repetem para mim como se eu mesmo não a conhecesse e sempre o fazem com um misto de espanto e admiração.
Todos nós sabemos que, embora seja verdade, dizer simplificadamente que o estádio foi construído em 90 dias pelo povo tem um quê de ficção romântica. Houve uma organização de lideranças locais que se empenharam para que isso pudesse acontecer de alguma forma, houve a colaboração da própria Prefeitura e empreendedores que patrocinaram a ação e também não é bem verdade que as pessoas que trabalharam o fizeram simplesmente por amor à causa. Mas, de qualquer forma, essas licenças poéticas de forma alguma diminuem a grandeza com que o Taquarão e sua história merecem ser tratados.
Neste ano, o portentoso estádio completará 40 anos desde sua inauguração. Porém, ainda que as autoridades tenham se apressado para colocar em mínimas condições de uso suas instalações após ter sido proibida a realização de quaisquer tipos de eventos, parece que não há previsão de algo que marcará tal data. Como se trata de um próprio público, um prédio administrado pela administração local, cabe à Prefeitura tomar as providências necessárias. Mas, ao que parece, no ano de 40º aniversário, o Taquarão não receberá em suas dependências o brilho que a efeméride merece.
Isso é algo que vai muito além do lamentável. Só não é péssimo porque, infelizmente, Taquaritinga tem outras pautas que se destacam nesta demeritória classificação, vide o desastre que tem assolado a cidade no combate à dengue. Tal situação, no entanto, não diminui o tamanho da tristeza que é o Taquarão não ter como celebrar adequadamente seu 40º aniversário.
Por outro lado, para ser justo, se fizermos as contas direitinho, é capaz de concluirmos que nosso estádio passou mais tempo interditado total ou parcialmente do que em plenas condições de funcionamento. A manutenção de um espaço gigantesco como ele não é algo barato e o dinheiro que mantém seus aparatos vem da mesma botija de onde saem as verbas que sustentam a saúde, que hoje, na cidade, está um caos. Entre cuidar do Taquarão ou combater a dengue, por exemplo, claramente o gestor público deve escolher combater a dengue.
Mesmo assim, para um espaço que já recebeu clássicos do futebol paulista, shows de astros nacionalmente reconhecidos e até mesmo grandes eventos benemerentes, é uma pena ver sua condição presente. A pequena mas fiel torcida de três cores do CAT empunhando radinhos de pilha sintonizados na rádio Imperial a altos volumes aguarda ansiosamente por ter seu lugar de volta, mas a população como um todo anseia por assistir no estádio grandes atrações, como já houve em anos anteriores.
Mas se é necessário fazer uma escolha do que cuidar, que se cuide da cidade. Repito: não é de hoje que o Taquarão não tem recebido a atenção que merece. Contudo, o que se vê é que a cidade está carecendo de um serviço eficiente de zeladoria. Praças e ruas sujas, mato alto por todo lugar… tudo muito deprimente. Ainda que não possa debitar a responsabilidade da atual situação do estádio na atual administração municipal, está em suas mãos dar condições para que a cidade como um todo esteja em ordem, limpa e organizada, tal como se espera que o estádio também esteja – mas não só ele.
Não há condições, nem dinheiro, nem tempo para se reformar o Taquarão para os festejos de seus 40 anos, como Paulinho Delgado fez quando foi celebrado os 25 anos do estádio. Porém, seria bom, razoável e até necessário que o prefeito Vanderlei Mársico considerasse tomar qualquer providência para resgatar a grandeza de nosso estádio. Quem sabe até torná-lo símbolo da retomada de nossa cidade – se é que haverá. O aniversário do Taquarão é 1º de maio. Vamos ver o que acontecerá até lá…
*Rodrigo Segantini é advogado, professor universitário, mestre em psicologia pela Famerp.
**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.