17 de novembro de 2024
Artigo / Crônica / PoemasGeral

Artigo: Meu amigo Mário

Por: Rodrigo Segantini*

Conheci Mário Bagliotti quando estava chegando em Taquaritinga. Eu fazia parte do Rotaract Club e ele, do Rotary Club. Na época, eu era só um rapaz de vinte anos achando que sabia tudo da vida e ele era o conselheiro do grupo que acompanhava o trabalho da moçada para orientar o pessoal. Com a minha imaturidade revestida por fina ironia e a petulância própria da juventude, algumas vezes trombamos em questões de como fazer aquilo que nós dois buscávamos como objetivo: tornar o mundo um lugar melhor.

E assim seguimos juntos, nesta luta em comum. Nesta jornada, encontramos várias pessoas que se propunha a entrar na política municipal para transformá-la, saneando os serviços públicos e suas contas. Eu e Mário, junto com outros amigos, aceitamos essa proposta e, a partir de então, ajudamos a organizar o grupo que, em uma crescente onda de otimismo, tomou conta de toda a população e culminou com sua chegada à prefeitura de Taquaritinga com Paulinho Delgado à frente. Demos um passo adiante em nossa amizade e nos tornamos também colegas de trabalho.

Assim, mais perto de Mário, pude conhecê-lo além do rotariano respeitado e admirado que era. Todos o tinham em alta conta por seu bom senso e moderação. Sempre tinha uma palavra amiga e de conciliação, dificilmente entrava em situação de conflito e sempre procurava a solução que melhor se adequava ao consenso de todos. Aquilo que ele pregava por meio do Rotary Club, ele levava para sua vida profissional.

Não só isso. Mário conseguia algo que, pode parecer comum, mas particularmente considero admirável: ele soube manter sua família coesa, soube criar bem seus filhos e passar-lhes a melhor formação, sendo leal, fiel e parceiro de sua esposa, Adriana. Prova disso é esse jornal, por meio do qual vi Gabriel chegar como colaborador diletante, tornar-se estagiário, iniciar-se como jornalista até, enfim, se tornar seu proprietário. “O Defensor” se tornou uma prova do exemplo que Mário pode ser como pai e chefe de família ao conseguir inspirar o filho a sair de um adolescente que gosta de tirar fotos de vez em quando e fazê-lo crescer até se tornar um empresário do ramo de mídia.

Em 03 de abril de 2013, dez anos atrás, portanto, minha esposa Adriana, xará da esposa de Mario, sofreu um acidente de carro que a deixou em coma por um ano e três meses antes de falecer. Ela permaneceu esse tempo todo internada e eu sempre pensava que, quando fosse minha vez de partir, eu não queria que fosse uma jornada tão longa. Por outro lado, não queria um fim rápido, em que não tivesse tempo de me despedir das pessoas queridas ou de organizar minha vida, de forma a não dar trabalho para ninguém. Enquanto desenvolvia minhas pesquisas na área de bioética na Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto – Famerp, uma das instituições de ensino mais respeitadas do país, cheguei à conclusão que morrer de câncer desde que não doa, desde que seja possível controlar sua dor, talvez seja a partida mais digna, reservada só aos que merecem.

Exatamente no dia 03 de abril, quando um sentimento de muita saudade e reflexão invade meu coração por pensar na minha falecida esposa e em tudo o que houve com minha vida desde seu acidente, recebo a notícia que Mário Bagliotti partiu, levado por um câncer descoberto há pouquíssimo tempo. Há muito tempo eu não tinha mais contato com Mário, acredito que desde quando precisei me dedicar mais aos cuidados do meu filho Arthur e fui levado para outros caminhos pela vida. Mas não pude deixar de pensar em tudo o que vivi enquanto eu e ele estávamos juntos, seja no Rotary Club, seja no trabalho na prefeitura, seja na busca por um mundo melhor. Também não pude deixar de pensar em como Mário foi um sujeito abençoado e que esse mérito todo se reverte em uma partida em que ele é recolhido em meio a tanto reconhecimento e de maneira tão digna.

Mário Bagliotti não se foi. Ele ficará por muito tempo entre nós. Ficará enquanto a Adriana estiver na Baby Center, ficará enquanto Gabriel publicar O Defensor, ficará em cada traço e desenho que Isabela fizer para melhorar a qualidade de vida das pessoas por meio da arquitetura. Mário Bagliotti ficará entre nós enquanto o Rotary Club de Taquaritinga seguir defendendo e militando nos mesmos ideais que ele defendeu ao longo de toda a sua vida. Mas, principalmente, Mário Bagliotti ficará entre nós enquanto seu neto Joaquim se lembrar do grande homem que foi seu avô e o quanto ele foi respeitado e o quanto de saudade ele deixou entre aqueles que o conheceram.

Até algum dia, Mário. Descanse em paz.

*Rodrigo Segantini é advogado, professor universitário, mestre em psicologia pela Famerp.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.