23 de dezembro de 2024
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Artigo: Vem, 75!

Por: Carlos Galuban Neto*

Acabo de ler que um milionário americano de 45 anos vem gastando 2 milhões de dólares anualmente para participar de um experimento que o possibilitará voltar a ter 18 anos. Pode parecer apenas uma excentricidade – e talvez seja mesmo – mas a experiência esconde uma questão importante: estaria a ciência a caminho de tornar o ser humano imortal?

Eu, particularmente, espero que não. Não me entenda mal, raro leitor, adoro os prazeres da vida, e adoraria ter um tempinho extra para ler todos os livros, assistir aos infinitos filmes e visitar os diversos lugares que desejo. Viver para sempre, contudo, é uma distância que não desejo percorrer.

Vejamos o próprio milionário americano. De acordo com a matéria do G1, ele “vive como se fosse um monge moderno: dorme cedo, sempre sozinho; se exercita de segunda a segunda; não bebe, não come gordura nem doces; e é vegano”. Basicamente, o que o sujeito pretende é curtir a imortalidade de dieta. Até Sísifo teve uma existência mais divertida.

Tudo isso, lembremos, para voltar aos 18 anos. Sério? Como é possível querer retornar a uma fase da vida em que ter uma conta no TikTok é praticamente obrigatório, aquilo que os outros pensam da gente vale mais do que nossas próprias convicções, o comunismo e o bolsonarismo são opções de ideologia, o sinônimo de vida social é nunca parar em casa e tendemos a achar que o mundo começou ontem?

É por isso que sugiro um novo experimento aos cientistas: deixem de lado o papo de rejuvenescimento e imortalidade e passem ao processo inverso, o de aceleração do envelhecimento. Com toda a modéstia, eu seria um excelente candidato ao posto de cobaia: já tenho uma hérnia de disco, minhas ressacas têm sintomas da dengue, compro jornal impresso aos domingos e tenho o sonho de fazer o cruzeiro do Rei Roberto Carlos. Falta só inventarem um botox do avesso e, pronto, chegarei aos 75 anos sem traumas.

A partir daí, a vida se torna um voo em altitude de cruzeiro. Aquele emprego chato – no meu caso, a advocacia – se torna opcional, o governo te dá um dinheirinho, qualquer ida à academia ou realização de atividade física se torna um bônus, chinelo e bermuda passam a ser vestimentas aceitáveis para eventos sociais, os familiares valorizam sua opinião na escolha do restaurante ou do cardápio do almoço de domingo e, melhor ainda, ninguém mais exige a sua ajuda para descarregar o carro depois de idas ao mercado.

Definitivamente, só deseja ser imortal aquele que – seja no espírito, seja no corpo – ainda não chegou à terceira idade.

*Carlos Galuban Neto é advogado formado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.