Crônica: Expectativas da Sociedade
Por: Sérgio Sant’Anna*
A sociedade espera que você sucumba. Que os deslizes possam acontecer e seu sofrimento aflorar-se, pois a esta foi passado o caminho da competição, aquele em que será necessário vencer ao adversário, contar com seus tropeços, apresentar-lhe veredas se for possível (buscar-se-á ser possível) para que mais um seja o eliminado.
Esta constatação brota num momento de profunda análise, não só através das leituras feitas, porém resultados de um percurso que começa com o nascimento e só se encerrará com o chegar da morte, e através desta trajetória que chamamos de vida (para Graciliano Ramos foi Vida Seca; para Zé Ramalho Vida de Gado; para Pitty Admirável Chip Novo) fartamo-nos de exemplos. A teoria influencia a vida, os aspectos morais domam-na, rotulam-na, mas te levam a refletir sobre seus desejos mais sombrios, seus anseios inóspitos, seu fracasso projetado, seu isolamento indolor. E quando sua presença não é notada faz-se sim a necessidade de impedi-lo à progressão.
Aquele momento de sossego é necessário (esqueçam o senso comum martelando “quem não é visto, não é notado”), a indústria da autoajuda criou a obrigação do sujeito elevar-se a qualquer custo. Produziram às pilhas, entretanto não ensinaram como recarregá-las… A felicidade a qualquer preço, a vida sem projeção, pois todos necessitam estar naquela forma idealizada pelos gurus da escrita pseudoterapêutica. E diante dessas “solucináticas”, como cantava o artilheiro Dadá Maravilha, os enfermos de consciência, incapazes psicologicamente projetam-se nesse mundo de avatares, de zumbis, guiados pelos cantos emitidos pelas Sereias.
A competitividade industrial, através do Capitalismo disforme trouxe ao ser humano a necessidade de cada dia produzir e cada vez mais, mostrando assim ser eficiente, padrão exigido pelas empresas e consequente pela sociedade que o elenca como paradigma. Dessa forma, aqueles que não se enquadram nesse perfil moldado tem a obrigação de deixar o certame e esperar pela Foice, pois é indigno da convivência em sociedade. Restando aos modelos de forma a real significância, ou seja, a vitória a todo custo mesmo que para isso tenha que destruir o meu semelhante. Aos que se ascendem de maneira tímida, sem o alvoroço das redes sociais, têm-se a intenção de atingi-los, nem que para isso haja o pacto com o além… Assim, o ser humano sente-se digno, forte, valente e prepotente, dono de uma irracionalidade capaz de destruir a própria espécie.
Expectativas a nossa que superam aos anseios dessa sociedade, pois a intenção sempre foram as melhores, na ânsia de buscar elevar-se sempre, porém, jamais, eliminar ao meu semelhante através de recursos escusos e desleais.
* Sérgio Sant’Anna é Professor de Língua Portuguesa do Anglo e COC Professor de Redação da Rede Adventista e Jornalista.
**Os artigos e crônicas publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.