22 de novembro de 2024
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Cachorro faz birra, se vinga ou sente culpa? Especialista esclarece

Pessoas que têm cachorro sabem que não rara é a cena de chegarem em casa, após um dia de trabalho ou demais afazeres, e encontrarem a casa bagunçada, móveis roídos ou mesmo xixi e cocô feitos em lugares indesejados. Mas será que o peludo tem esses comportamentos destrutivos por birra, por vingança, de forma arquitetada contra o dono, por ter ficado sozinho, e depois sente culpa, quando repreendido e arrependido?

Camilli Chamone, geneticista, consultora em bem-estar e comportamento canino e criadora da metodologia neuro compatível de educação para cães no Brasil, assegura que não.

“A Teoria da Mente é um conjunto de estudos que comprova a competência que alguns animais têm de entenderem as emoções de terceiros. É a habilidade de compreender e interpretar estados mentais de outros seres. Porém, a ciência afirma que apenas os primatas ditos superiores – como gorilas, macacos e, claro, humanos – têm essa capacidade de percepção. Cães, portanto, não têm essa habilidade. Na prática, isso significa que a birra, a vingança ou a culpa, por serem emoções muito elaboradas, não fazem parte do repertório emocional dos cães”, explica.

(Imagem de Engin Akyurt por Pixabay)

Na realidade, os comportamentos destrutivos são uma forma que os cães têm de tentar aliviar a ansiedade que sentem, sendo equivocada a ideia de que estejam fazendo birra ou se vingando do seu dono por deixá-lo sozinho.

Outro comum engano é quando o cachorro apresenta expressões (corporais e faciais) que remetem ao arrependimento depois de fazer “algo errado”. Mas, segundo Chamone, esta é somente uma interpretação humana, que não se relaciona, de fato, com aquilo que o animal está sentindo.

“O que acontece, na maioria das vezes, é que os cães sentem medo (essa emoção, sim, é cientificamente comprovada de ser sentida por eles) em situações ameaçadoras – quando, por exemplo, o dono aumenta o tom de voz ou faz determinadas expressões e gestos”.

São expressões físicas do medo abaixar as orelhas, colocar a cauda entre as pernas, tremer e ficar com “olhar piedoso” ou parado em um canto, na tentativa de se esconder.

Em seus atendimentos, Chamone conta que é comum que o dono confunda essa linguagem com culpa. “Por isso, ao chegar em casa e ver algo fora do lugar, o humano tende a brigar com o cão, na esperança de que ele entenda, se ‘culpe’ e mude. Mas isso jamais acontecerá”, afirma.

Punir o cachorro, nesse tipo de situação, tende a agravar o problema. “A punição gera medo, o medo gera estresse e o estresse piora os comportamentos destrutivos. Além disso, o cão vai perdendo a confiança no tutor – há casos, inclusive, em que o medo evolui para agressividade, pois é a única maneira dele se defender. Com o tempo, ele associa a chegada do tutor como uma ameaça, ficando ainda mais nervoso”.

Para lidar melhor com a situação e tirar o cachorro de um quadro de estresse ou ansiedade, o foco precisa sair de ações punitivas, que tentam fazê-lo sentir culpa sem efeito algum – já que ela não existe nos cães –, e ir para outras que melhorem sua qualidade de vida e, consequentemente, a de toda a família.

Uma boa iniciativa é introduzir um passeio de qualidade em sua vida. “Dê preferência em locais com bastante natureza para que o peludo possa farejar, fazer suas necessidades e marcar território. Ao gastar energia física e mental, a tendência é relaxar mais em casa”.

Além disso, é importante saber que alguns comportamentos são naturais dos cães, como, por exemplo, roer. “Nestes casos, basta canalizar a energia para um brinquedo de roer, de forma que ele não tenha que mastigar o pé da mesa ou o braço do sofá, afim de se satisfazer”, recomenda Chamone.

Por fim, se essas ações não resolverem, é indicado buscar ajuda profissional, que oriente o dono a usar outras estratégias específicas e eficientes para diminuir o estresse do animal.