Artigo: Uhu, que venha 2023!
Por: Prof. Sergio A. Sant’Anna*
Por que será que a esperança sempre renasce com a finalização de mais um ano? Somos dotados de crenças e conhecimentos que se alinham a um calendário que se concluí em doze meses e neste há dias significativos, momentos prazerosos, exercícios religiosos que aguçam sua crença, finalizam um período de 365 dias e já sinalizam para outro ano. É recomeço ou começo. Esqueçamos o passado e rumo ao presente, lutemos pelo futuro. E o pretérito é destruído quando é triste, amargo, ácido, acampado em sofrimentos. Imaginemos trabalhando todos esses dias sem ao menos um feriado? Seria desgastante, mesmo com o sábado e domingo, mesmo que você adore aquilo que faz.
O feriado é natural, é contado como um elemento de esperança, de recarga de energias, ajuste de baterias, limpeza dos motores. Veículo para manutenção. Dessa forma, também ocorre com o final do ano. Um momento de descanso, principalmente hoje em dia que trabalhamos feito Chaplin em “Tempos Modernos” e não percebemos o nosso entorno, somos tragados pela produção, pelo exímio funcionário, pelo melhor empregado, pelo patrão “bonzinho” (só almeja lucro) e essas crenças lideradas pelos “cochs” da vida. Como diria Zigmunt Bauman, somos tragados pela modernidade líquida, tudo é efêmero, passageiro…
Tornou-se muito natural apresentarmos a desculpa do trabalho, dos muitos afazeres, do compromisso inadiável para justificarmos nossa ausência diante das coisas mais belas e simples, para nos distanciarmos da vida, dos nossos entes e amigos, somos, novamente, escravos, reféns do lucro, da sobrevivência, do dinheiro depositado em sua conta ao final do mês. Somos ludibriados a todo instante, cooptados pelo trabalho como suor do seu rosto e aquele que nada faz é classificado como preguiçoso. Serviços braçais sempre foram vistos como um esforço sobrecomum, e aquele que se utiliza mais de resoluções que atiçam ao campo cognitivo é deixado de lado, todavia no momento de optar por uma classificação diante do mercado de trabalho a opção é sempre pelas profissões que exigem mais do intelecto e aí vem sempre a desqualificação, o retrocesso, o menosprezo, a retrotopia.
Nestes últimos anos passamos por situações inimagináveis, presentes apenas em livros distópico. Momentos que levaram o ser humano à reflexão. Análises que marcaram nosso entorno, abalaram nossas estruturas, desestruturou o ser humano. A pandemia foi um momento em que entes queridos foram perdidos, despedidas não aconteceram, o luto não foi cumprido e um vazio se instalou em famílias e indivíduos. Embora este seja um alerta de que o ser humano não está bem, continuamos umbiguistas, narcisistas, individualistas. Perdemos parentes e amigos próximos e continuamos acreditando que as vacinas deixaram de serem importantes, que os cuidados paliativos são desnecessários e que este vírus que aí está é apenas uma “gripezinha”. Foram 700.000 mortos no Brasil. Um momento que jamais será esquecido, principalmente por aqueles, como eu e minha família, que perdemos parentes queridos pela ausência da vacina.
É triste finalizarmos 2022 e notarmos que há famílias que se dividiram devido à polarização político-partidária, porém dói mais em observamos cidadãos que clamam por uma intervenção militar, apagando todas as mortes e torturas ocorridas durante os vinte anos em que fomos tomados por um golpe militar, momentos que nossa liberdade fora dominada pelo silêncio e a incompreensão. Soterram a história como aquele cão que encobre seus excrementos. E nessa situação, nós os que se compadecem com as vítimas e familiares, necessitamos mostrar o que é altruísmo, empatia, necessitamos mostrar a atitude do dono que anda com a sacolinha empunhada e coleta os dejetos e alerta a sociedade de que aquele excremento ali deixado tem que ser coletado. As mentiras não podem tapar os erros do passado, ludibriar cidadãos, ou mesmo cooptá-los para a banalização do mal.
Como dizia Carlos Drummond de Andrade em seu épico “Receita de Ano-Novo”: “Para ganhar um ano-novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente. É dentro de você que o Ano-Novo cochila e espera desde sempre”. Não deixemos a chama da esperança morrer. Ela pode diminuir suas chamas, porém apagá-las jamais.
*Prof. Sergio A. Sant’Anna – Professor de Redação nas Redes Adventista e COC em SC e jornalista.
**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.