21 de novembro de 2024
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Artigo: A praça é do povo, ocupemos nossos espaços

Por: Prof. Sergio A. Sant’Anna*

A praça é subjetividade, é o alimento da inspiração; local onde almas encontram-se, a brincadeira é verdadeira e o verde possui o pleno direito de florescer, todavia há que se ter seres humanos sensíveis.

Minha infância, em Taquaritinga, aconteceu, principalmente, na rua Duque de Caxias onde meus avós paternos residiam. Foi lá que os meus sonhos se arquitetaram, alimentaram-se do verde quintal com aquelas árvores frondosas, frutas em abundância e muitos animai; desde a vida pueril fomos educados a respeitar à natureza, preservá-la e expandi-la. Porém, as praças taquaritinguenses sempre me chamaram a atenção. Meus avós e meus pais nos levavam para ali brincarmos, eles conversarem com os amigos e passarmos bons e ternos momentos naquele ambiente saudável, aprazível. Dessa forma, a televisão era deixada de lado, e a humanidade desenvolvida e praticada.

A primeira das praças foi aquela em frente à Santa Casa de Taquaritinga, chamada de praça do hospital, cujo nome deve ser lembrado sempre – Doutor José Furiati. Foi ali os meus primeiros tombos andando com uma caloi, ganha de um amigo da Capital dos Paulistas, que visitava à cidade todas as férias de verão. Que momento único! Lembro-me e as lágrimas escorrem. Praça esta, que meu avô Willy desfilava longas conversas com os motoristas do ponto de táxi que ali existia.

Outra praça que frequentei muito foi da Igreja de Santa Luzia. Meus avós maternos ali residiam, moravam onde hoje se localiza a paróquia que recebe o nome da “Santa dos Olhos”, ali brincamos muito, lembro-me dos fiscais que tomavam conta da praça. Muitos estavam ali para não permitir que moradores de rua se aglomerassem, e também para impedir que cidadãos destruíssem aquele patrimônio. Em uma esquina o bar do Seu Mané; na outra, o bar do Gasparini. Quantos momentos importantes ali passamos. Quantas histórias acumulamos.

A antiga praça Nove de Julho, depois rebatizada com o nome do grande Horácio Ramalho fez parte da minha juventude, assim como a praça Centenário, mais adiante renomeada de “Dr. Waldemar D’Ambrósio”, ali era o nosso ponto para o destino à Faculdade. Dr. Horácio e Dr. Waldemar foram homens das letras, políticos de argumentos, donos de discursos inflamados e persuasivos, avessos às falácias. Minha filha mais velha, Beatriz, adorava a praça Horácio Ramalho (contempla as poesias do Príncipe dos Poetas taquaritinguenses), seus ipês, suas flores. Praças que carregam a história em seus nomes, as memórias em seus bancos, a beleza em suas árvores, o diálogo em suas esquinas e coretos.

A praça da Igreja Matriz de São Sebastião fez parte da minha formação católica: primeira comunhão, crisma, missas; não me esqueço da praça Guilherme Franco, outro nome importantíssimo para a história e cultura taquaritinguense, e dessa forma, as outras duas cidades que morei, sempre as praças foram nosso refúgio, nosso momento de contemplação, ponto em que minhas filhas passaram a admirar e preservar. Como disse o grande poeta baiano Castro Alves: “A praça é do povo, assim como o céu é do condor”. E esses espaços devem ser exaltados, devem ser revisitados e ocupados pela população. Festas, quermesses, shows, exposições, saraus, feiras devem se realizarem, contudo a população necessita trazer novamente as praças para o seu dia a dia. Não como local frequentado apenas em ocasiões esporádicas, todavia que se introduza ao seu cotidiano, e como antes, que faça parte da sua casa, seja uma extensão do seu quintal, que sirva para que você retire seus filhos e netos do celular e estabeleça uma relação de amizade com o seu próximo como fora antigamente.

Leia Castro Alves, escute Caetano e faça da praça, novamente, um local popular. Tome conta dos seus espaços, avance sobre esse nosso terreno, sejamos felizes novamente.

*Prof. Sergio A. Sant’Anna – Professor de Redação nas Redes Adventista e COC em SC e jornalista.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.