19 de novembro de 2024
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Artigo: Obrigado Taquaritinga, venceu o Brasil

Por: Raphael Anselmo* e Gustavo Girotto**

Taquaritinga concebeu um maravilhoso histórico de filhos da terra que se destacam nas mais diversas profissões de elevado nível intelectual. É fato! Há professores, doutores e PhDs nas principais e melhores universidades do mundo, taquaritinguenses ocupando cargos em multinacionais, assim como nos principais movimentos sociais do País. Somos frutos de uma raiz forte e profunda – de natureza progressista – e desenvolvimentista, porém silenciosa.

Entretanto, há também uma forte inclinação conservadora e amordaçadora: a monarquia por um dia foi homenageada até em enredo de Carnaval; o Integralismo tinha adaptos na cidade – e não eram poucos.

Nesta eleição, esses escombros da ditadura, reapareceram com microfones nas mãos, de forma muito barulhenta. Essa corrente escatológica de extrema-direita ocupa, cada vez mais, espaço nos poderes locais, inclusive no executivo e até no Legislativo. Alinhado ao mandatário que acaba de perder as eleições (primeiro presidente a não conseguir se reeleger), os últimos quatro anos em Taquaritinga foram nebulosos. Fomos uma das cidades com o maior percentual de mortes por Covid-19 da região, graças as ideologias negacionistas altamente difundidas em nossa cidade: cloroquina e desinfecção de vias de movimentação no município – foram implementadas – contrariando a ciência.

Infelizmente, o atual líder do executivo, sem incorporar a liturgia do cargo, seu vice e alguns caciques ocuparam dos microfones, dias antes do segundo turno, para escarmentar as piores e mais abomináveis Fakes News contra o recém-eleito presidente, Luiz Inácio Lula da Silva. Áudios afirmavam que, diante do número de votos no 1° turno que Lula teve na cidade, haveria 10.672 taquaritinguenses que eram a favor do aborto, da censura, da ditadura e tantas outras aberrações – de mentes que, por algum interesse, refutaram o bom combate. Evocaram apenas aspirações individuais de quem jamais entenderá uma luta coletiva.

A verdade é que houve 11.472 taquaritinguenses em favor da democracia, da vida, da paz, da estabilidade econômica e política do nosso País. Essas pessoas são frutos da resistente árvore desenvolvimentista dessa cidade. Pessoas que são a voz do progresso, que dão suspiros de ar puro para Taquaritinga – mesmo que estejam fora dela. A faixa estendida na entrada da Vila São Sebastião com os dizeres: “Respeite a Favela. Fora Bolsonaro! Tchau Tarcísio” é a voz contra o preconceito racial e social. A Vila São Sebastião é hoje o nosso resistente Nordeste.

Na carreata da vitória que se concentrou na Avenida Paulo Roberto Scander foi possível ver a felicidade estampada no rosto de quem sabe que, dias melhores, virão aos mais desprovidos. Mais que isso: a razão voltará e que todos reviverão um lugar reestabelecido na sociedade. O gigante Brasil agora deixa no passado um terrível selo de atraso, de pária no cenário internacional – tanto que os principais líderes globais, imediatamente, ligaram para parabenizar Lula.

Nos orgulhamos em estar do lado de cá, que lutamos no campo da verdade e da defesa incondicional da democracia. Sem artimanhas desleais, sem utilizar meios escusos. Os votos do Partido dos Trabalhadores cresceram mais de 50% em comparação as eleições de 2018, Jair encolheu.

Taquaritinga tem muito que se orgulhar desses 11.472, que não permitiram que um político se usurpasse de nosso símbolo maior, a bandeira nacional. Aliás, essa frente democrática jamais virou as costas ao sentimento do patriotismo. Pelo contrário, lutaram bravamente. Não se esqueçam, somos a terra de bravos como Dimas Ramalho e os saudosos Dr. Luiz Eduardo Curti e Adauto Scardoelli (que lutaram nos anos de chumbo), de Francisco ‘Chiquinho’ Emanuel Penteado assassinado pela ditadura, de jornalistas como Pedro Cafardo e João Palomino, de grandes médicos como Alexandre Enoki e Horacinho Ramalho, de juízes como Dr. Gilson Miguel Gomes da Silva, de Carlos Eduardo Sobral, Delegado de Polícia Federal, de cientistas como Andrea Teteia Galassi e Juliana Bortolato, de atores como Genesio de Barros e Gabriel Miziara e de gente que honra o nome deste solo e o defende – independente de esquerda ou direita- mas que se apropria da verdade como princípio de vida.

Nos últimos dias, depois de um vídeo feito por um fanático histrião, alegando que o prefeito apoiara um ‘golpe’ em ato no Tiro de Guerra (TG), Vanderlei Mársico imediatamente desagravou em nota oficial: “sou legalista, defensor da lei e da ordem”. Não chega a ser um pedido de desculpas ou reconhecimento ao equívoco na campanha, mas nas entrelinhas diz em alto e bom som: a eleição acabou e o momento é de conciliação, de reconhecer a derrota e torcer pelo País. Demonstrou alguma capacidade de superar erros e certa maturidade democrática.

Lula é eleito presidente do Brasil, de Taquaritinga e de todos nós. É hoje, indiscutivelmente, o maior líder político da história da América Latina.

11.472 obrigados aos que entenderam que o amor vence o ódio. E quem discorda, por meio do campo democrático e das normas constitucionais, que lute, até porque, as urnas sacramentaram: Ele não!  E, quando a luz iluminar os cheques de Queiroz à Michelle Bolsonaro, o caso de propina com pastores, a quebra do sigilo de 100 anos, 51 imóveis em dinheiro vivo e uma Polícia Federal desaparelhada – talvez seja um sólido ‘nunca mais’. As urnas, ainda, colocaram uma derrota esmagadora na blasfêmia “Deus acima de todos e o Brasil acima de tudo’, uma vez que não há como combinar Deus com ódio, com elogio à tortura e a torturadores e com as ameaças a seus opositores. Dias melhores virão: amanhã, será um lindo dia, dá mais louca alegria que se possa imaginar – como tocado em um dos jingles mais emocionantes das campanhas nacionais. Taquaritinga fez sua parte e, com a vitória de Lula, quem vence é a DEMOCRACIA (…)

*Raphael Anselmo é economista.

**Gustavo Girotto é jornalista.

***Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.