20 de dezembro de 2024
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Artigo: Oxente, por que tanto ódio?

Por: Prof. Sergio A. Sant’Anna*

Há alguns anos vi uma entrevista do grande escritor Ariano Suassuna e fiquei maravilhado, como todas as suas entrevistas. O paraibano afirmou em uma das suas passagens: “Prefiro meu “oxente” do que seu “ok”. Fantástico. Isso me lembrou o professor Possenti: “Faz-se necessário ser um poliglota da própria língua”.

Somos um país alimentado pela sua diversidade linguística e cultural. Você já leu “Preconceito Linguístico”, do professor Marcos Bagno?, então leia. Aproveite e reflita.

Nossa Nação exala a diversidade, é rica pela exuberância de suas paisagens, pela beleza de seu povo, pelos seus dialetos… Jorge Amado, Graciliano Ramos, Raquel de Queiroz são apenas alguns ícones da literatura e da história brasileira exaltados no mundo todo, além de Ariano Suassuna (já citado) e Paulo Freire.

Não é possível que diante de uma eleição polarizada e horrenda, tu sejas os bombeiros de “Fahrenheit 451” e leve às chamas toda uma cultura, pelo fato de seu candidato para presidente da República não ser vitorioso no primeiro turno. Essa obra clássica considerada uma distopia é uma alusão feita ao sanguinário Adolf Hitler e ao nazismo. Todavia, essa metáfora não pode ser interpretada de modo único, direto. Essa comparação vai além, está diante dos déspotas que fecham salas de cinemas, reduzem as verbas para Cultura, encerram a distribuição de livros da nossa Literatura aos alunos de Escolas Públicas, e afirmam que leitura é para os ricos. Retiram aulas de Filosofia e Sociologia da grade curricular discente, reduz o Ministério da Cultura a uma mera Secretaria atrelada ao Ministério do Turismo, entrega pastas importantes como o MEC a um cidadão que trata a inclusão como um empecilho; acredita que o Ensino Superior não é o caminho, pois o desemprego só cresce (ineficiência de quem?).

Devido a essa política mesquinha, sórdida, tacanha e estratégica, essa “queima dos livros” não será percebida, pois foi esse o caminho tomado por eles, cientemente. Olhe para o seu lado e reveja suas falas, sei que foi num momento de explosão, todavia o ódio não deve superar o amor. Somos cidadãos brasileiros, independente do Estado em que nascemos, quem for eleito governará para toda Nação.

Você sabe o que é XENOFOBIA? Essa aversão aos demais levou Hitler a dizimar mais de dez milhões de seres humanos; por essa soberba e individualismo Lúcifer caiu dos Céus. Você me disse, bradou não ser preconceituoso quando os casos de racismo explodiram pelo País, e agora ataca aos seus irmãos do Nordeste? Não há esquizofrenia que sustente tamanha avalanche de xingamentos infundados. O Brasil ainda é um País e só é maravilhoso pela sua diversidade, contemple suas belezas e exalte o amor ao seu próximo.

Opine sempre, seja um cidadão político, saia do analfabetismo político, contudo…  Não deixe que o ódio nos sucumba! Todavia, só sentimos essa atrocidade quando a comida falta, a fome ressurge, o apagão ascende, o preço dos alimentos se escancara e o povo padece… E o governo continua a afirmar que a culpa não é dele (até quando?), enquanto isso segue a queima de livros e o dizimar de cérebros. Huxley e Zé Ramalho narram de maneira didática esse momento, que não é mais distópico, da nossa história.

Hoje não vou dizer bom final de semana, pois é necessário pensar, refletir e se colocar no lugar do outro para se ter um dia feliz… seu ódio dizimará esta população.

*Prof. Sergio A. Sant’Anna – Professor de Redação nas Redes Adventista e COC em SC e jornalista.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.