3 de dezembro de 2024
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Artigo: Elizabeth Alexandra Mary – A Rainha Elizabeth II

Por: Luís Bassoli*

De início, vale lembrar que a Monarquia Britânica é do tipo “constitucional-parlamentar” desde o século 18, ou seja, há mais de 300 anos, a administração interna e a política internacional (das questões coloniais de antigamente às relações comerciais de hoje) são de responsabilidade do Parlamento e não da Família Real.

O surgimento de Elizabeth

Em 1940, o Reino Unido estava sofrendo terríveis bombardeios das forças de Hitler.

O primeiro-ministro Winston Churchill clamava pela ajuda dos EUA; o presidente Roosevelt alegava a Lei da Neutralidade, de 1936, para justificar a impossibilidade de se engajar na Guerra.

Churchill, então, solicitou à Realeza que a adolescente Elizabeth fizesse um pronunciamento, pelo rádio, dirigido, especialmente, às crianças britânicas que haviam sido enviadas aos EUA e Canadá para escapar dos nazistas.

Elizabeth permaneceu no país, um importante gesto para levantar o moral do seu povo.

A intenção de Churchill era fazer com que o discurso da jovem princesa sensibilizasse a população norte-americana para a necessidade de entrar na Guerra – e constranger Roosevelt a tomar uma posição.

Em outubro de 1940, aos 13 anos, a futura rainha faz seu primeiro discurso público:

“Estamos tentando fazer tudo o que podemos para ajudar nossos audazes marinheiros, soldados e aviadores, e também para suportar nossa própria cota de perigo e tristeza”.

(Os EUA só entrariam em combate em 1941, depois do ataque japonês à base de Pearl Harbor, no Hawaí).

No mesmo ano, a princesa estreou no teatro de Guerra ao inspecionar um regimento da Infantaria.

Em 1945, ingressou no Serviço Territorial Auxiliar da Divisão de Mulheres do Exército Britânico, como “Segunda Subalterna Elizabeth Windsor” – passou três semanas entre os recrutas, aprendendo mecânica básica e dirigir caminhão; depois, se tornou Coronel-Honorária do Exército.

Herdou a Coroa em 1952, aos 25 anos, com a morte do pai, o Rei George VI.

Na Guerra Fria, manteve-se discreta, sem emitir opiniões diretas sobre temas “sensíveis” nem adotar posições políticas, o que é função do primeiro-ministro, que é o Chefe de Governo.

Como Chefe de Estado, reinou sob o manto da defesa dos ideais de democracia e liberdade.

Simbólicos gestos contra o racismo e em defesa da mulher

Em 1961, a Rainha fez uma visita à Gana, onde protagonizou uma dança com o presidente Kwame Nkrumah, que passou para a história como um momento simbólico contra o racismo: uma mulher branca e um homem negro, abraçados e felizes, em um compromisso oficial, nos tempos em que a segregação racial era institucionalizada em muitos países, inclusive nos EUA.

Em 1963, quando o presidente norte-americano John F. Kennedy foi assassinado, Elisabeth ordenou que os sinos da Abadia de Westminster fossem tocados, contrariando a tradição, reservada só para membros da família real: o gesto foi em solidariedade à viúva Jacqueline.

No início do século 21, recebeu a visita do monarca saudita Abdullah Al-Saud e, no encontro, no Castelo de Balmoral, na Escócia, o convidou para um passeio pela propriedade. Seguiu-se mais um ato carregado de simbolismo: a própria Rainha assumiu o volante do Land Rover real, com Abdullah no banco do passageiro, sendo que, naquela época, as mulheres não tinham permissão para dirigir na Arábia Saudita.

Problemas Internos

Talvez, a pior situação foi lidar com a morte da Lady Diana, em 1997, quando a própria realeza foi colocada em xeque.

A ex-nora era um ícone, e o ex-marido dela, seu filho Charles, foi alvo de intensas críticas, a ponto de muitos descartarem que a sucederia no trono.

Quase todos os súditos haviam “desistido” do príncipe, menos sua mãe!

Elizabeth II, se diz, se dedicou a “reconstruir” a imagem do filho para que, quando chegasse a hora, ele se tornasse Rei – o que aconteceu nesta quinta-feira (08/09).

Em 2020, enfrentou com coragem as acusações de pedofilia contra seu outro filho, Andrew, cujas consequências ainda virão.

Elizabeth II e o Brasil

Em 1968, fez uma enigmática visita ao Brasil, a única de uma monarca britânica ao País.

Foi à Universidade Federal da Bahia (UFBA), em Salvador; ao Monumento aos Mortos da Segunda Guerra, no Rio; à inauguração do MASP, em São Paulo.

Em plena ditadura militar, o principal discurso da Rainha foi no Congresso Nacional, em Brasília:

“O Legislativo brasileiro enfrenta problemas de complexidade e grandeza que poucas nações foram chamadas a resolver, e de vós, depende a tarefa de criar unidade na diversidade”.

Os ditadores reagiram e, dias depois, o general-presidente Costa e Silva baixou o Ato Institucional n. º 5, o famigerado AI-5, que “fechou” o Parlamento e aumentou a repressão.

Em 2006, a Rainha explicitou especial atenção ao então presidente Lula, no encontro do G-8, em Londres, quando reafirmou as excelentes relações entre as duas nações.

Popularidade

Recentes pesquisas apontam que 75% dos britânicos aprovavam seu reinado.

Para muitos especialistas, ela se tornou a tradução do “soft power” britânico, um destaque da cultura pop, estampada em suvenirs de todo tipo, além das atitudes de bom humor, como a participação na abertura das Olimpíadas de Londres, quando foi “resgatada” pelo  Agente 007 James Bond (interpretado por Daniel Craig), no Palácio de Buckingham, de onde “partiram” de helicóptero até “pousarem”, de para-quedas, no estádio olímpico.

Deus salve a Rainha!

* Luís Bassoli é advogado e ex-presidente da Câmara Municipal de Taquaritinga (SP).

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.

(Com: UOL; G1; Wikipedia; BBCBrasil; agências)