21 de novembro de 2024
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Artigo: O Mito deixou de ser pedra, virou vidraça e ganhamos uma Escola Militar…

Por: Gustavo Girotto* e Raphael Anselmo**

A verdade é uma só: quem esperava um fracasso retumbante do Presidente (inclusive, erra o William Bonner ao chamá-lo de candidato), deu com os burros n’água. O Presidente, como assinala a liturgia do cargo, foi bem melhor do que se esperava. Mas sabe no que ele vai mal? Na Economia!

A pergunta que mais faço e que menos ouço respostas é: o que melhorou na vida do brasileiro desde a posse do atual presidente? Silêncio monástico! Nem seus fiéis apoiadores, – cegos por uma paixão que flerta com Síndrome de Estocolmo – conseguem defender a política econômica (des) articulada do atual governo.

Alguns tentam se apropriar do sucesso do PIX, que no discurso eleitoral fora incorporado a uma bravata, um delírio infantojuvenil de Bolsonaro. Quem se informa, sabe que o moderno dispositivo foi criado e implementado por um projeto de servidores do BACEN, projeto este inclusive que atrasou meses por conta das ameaças governistas de cortes salariais de 25%.

Mas o fato principal é que a inflação voltou, mais que isso, persiste há tempos. Hoje, no acumulado de 12 meses, estamos com 10,07%, que somados aos 10,74% de 2020, e aos 10,06% de 2021, atinge aproximadamente 31% – e esse é um grande fantasma que assombra Bolsonaro. Você, eu, nós – todos perdemos o poder de compra. O presidente, no Jornal Nacional, também nem ficou vermelho ao falar que estamos em deflação. Dos 31%, ele conseguiu apenas agora reduzir 1,5% o índice inflacionário – ou seja, o discurso não bate com os números (que são uma bússola da incompetência do atual governo).

Os juros são outro esqueleto no armário. Finalmente, o expressivo aperto monetário promovido pelo Banco Central chegou ao seu pico com Selic de 13,75%; ou de 14,00% no Copom de setembro, para apoiar a “ancoragem de expectativas” de longo prazo de convergência nas metas de inflação. Em contrapartida, mesmo com a desaceleração da pressão inflacionária e a possibilidade de fim do ciclo de alta da taxa básica de juros nos próximos meses, a escalada dos preços observada no último ano e a Selic alta afetaram, também, as projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) do País. Ou seja, o trem do crescimento descarrilhou – a taxa básica de juros em dezembro de 2018 era de 6,5% ao ano. Aliás, arrancar o couro do brasileiro e depois passar uma pomadinha, perto das eleições, virou o mote da campanha do Mito. Mas vamos dar um refresh: no início de 2019, o litro da gasolina custava aproximadamente R$ 3,60. Em junho desse ano, em nossa região, o litro saltou para R$ 7,40. Absurdo! A redução superficial no preço dos combustíveis virou bandeira de campanha, mas a matemática é simples: 3,60 é menor que 5,40.

Desemprego é outro vetor que continua assombrando o brasileiro, que não consegue se planejar nem no médio prazo. Bem verdade que, quando o atual governo assumiu, o desemprego era de 12% e foi para 9%. Porém, o trabalhador teve substancial perda de salário. Quando o atual mandatário assumiu em 01/01/2019, o rendimento domiciliar per capita era de R$ 1.650; agora foi para R$ 1.353 em 2022.

Em síntese: O salário caiu, a inflação subiu, o crédito ficou mais caro. Não aleatório no Brasil de Bolsonaro, 33,1 milhões passam fome (insegurança alimentar grave), uma tragédia que atinge 15,5% das famílias. De nada adianta ajoelharmos na missa da Matriz todos os domingos e não pensarmos nos mais necessitados. Em 2022, o país voltou ao mapa da fome, e o que foi feito para isso? Nada… e zerar o imposto de Whey Protein, soa deboche: não contribui para pessoas menos favorecidas.

A economia está em frangalhos, e o auxílio para tentar ganhar voto tem data de validade: 31/12/2022. Claramente, uma maquiagem para ludibriar o eleitor para as eleições. Revisite na memória o passado e nos diga? O que melhorou na economia?

Há uma percepção de que as condições da economia afetam negativamente o mandatário atual, em processos eleitorais, seja diretamente, seja indiretamente, pela via da sua popularidade. O fato já entrou para os memes perpétuos de processos eleitorais: nas eleições norte-americanas de 1992, em que Bill Clinton disputava com George H. W. Bush, Clinton ao questionar qual seria o principal tópico a debater com Bush, seu estrategista James Carville afirmou: “It’s the economy, stupid!” (É a economia estúpido). E, provavelmente, esse será o tema que jogará na lona Bolsonaro.

Por fim, sabe por que não teve a mamadeira de piroca no JN? A explicação é simples: na cadeira de presidente, o Mito deixou de ser pedra e virou vidraça – principalmente, ao afirmar que seu conluio político, em sua época, não se chamava centrão.

Se olharmos para o nosso quintal, é possível que o atual prefeito e alguns vereadores apoiem esse retumbante fracasso. No fundo, é preciso entender que não há dois lados diante de tamanha incompetência: a lata de lixo da história já está aberta. Mas sejamos equilibrados: a cidade ganhou uma escola militar e, neste ponto, não façamos juízo de valor – apenas uma pequena indagação: algum vereador já pediu a lista de salários dos diretores que lá estão sendo acomodados?…

*Gustavo Girotto é jornalista.

**Raphael Anselmo é economista.

***Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.